Os OVOS... da GALINHA de OURO
Era uma vez um artesão que recebeu de um rei a incumbência de fabricar uma réplica de uma galinha, que deveria ser toda moldada em ouro puro.
Havia minas de ouro naquele reino, de uma abundância absurda – era fartura de ouro, sendo desenterrado de tudo quanto é lado... e onde quer que houvesse uma área rochosa do imenso território.
E aquele reino – onde vivia o artesão – era onde tinha surgido a lenda do Rei Midas, cuja fama correu o mundo como sendo alguém que transformava em ouro tudo que ele tocasse com qualquer das duas mãos.
Então, ouro não era problema.
O rei queria agradar um outro soberano que viria em visita de negócios.
E o reino de onde vinha o visitante tinha como principal atividade econômica a criação de várias espécies de aves comestíveis, porém a galinha era, dentre todas, a ave que mais prosperidade havia trazido para a economia.
O artesão correu com as coisas, pois tinha pouco tempo para entregar a peça (uma galinha toda de ouro, mas em tamanho natural).
E a facilidade de ouro era tanta, que o rei mandou exageradamente derreter ouro numa caldeira de dez metros de altura. E nem quis saber se iria sobrar ouro na oficina do artesão, porque a caldeira ficou cheia de outro derretido, para o artesão usar à vontade – sem nem precisar de tanto. Claro que era um desperdício, tudo o que iria sobrar ali já derretido.
No dia do grande banquete de negócios das duas realezas, a galinha estava pronta – toda, todinha mesmo, feita de ouro (do rabo ao bico e também os pés). E ela era de tantos... mas tantos... quilates, que até o cão real ficaria acanhado de latir dentro do castelo ao olhar para a galinha.
Quando Sua Majestade visitante viu aquilo, ficou tão lisonjeado e grato que até prometeu ficar não somente os três dias da festa. Sim, ficaria toda uma semana porque sentia gosto de poder negociar com um monarca assim. Pediu então para que fosse a ele apresentado o artesão, pois desejava condecorá-lo por tão belo trabalho.
Ocorre que, quando o rei visitante pôs os dois olhos reais no artesão, imediatamente reconheceu o infeliz. Tratava-se de um artesão que no reino desse monarca havia sido acusado de ter se deitado com a rainha, aproveitando que ela adorava os mimos fabricados de metais preciosos que naquela época também saíam das mãos desse mesmo mestre do artesanato.
Sim, lá estava o infeliz diante dos seus olhos...!
Num raciocínio fulminante, o rei visitante teve a ideia que serviria de desculpa para levar o traidor para a masmorra.
- Espere aí! – disse ele – eu não poderei lhe dar a condecoração prometida sem antes examinar os ovos de ouro que certamente estão guardados na galinha, como uma surpresa final. Pois, no meu reino, galinha sem ovos ou pintinhos é considerada prejuízo.
O desafio pegou o artesão de surpresa. Pois, quando indagado, afirmou que não havia sido avisado desse detalhe. Teria que ser outra galinha, se lhe dessem um outro prazo, pois aquela não era nenhum pouquinho oca porque não estava previsto esse detalhe.
Pronto! Bastou!
De monarca para monarca, o vexame somente seria resolvido de um único jeito. O monarca visitante ficaria com a galinha, assim mesmo, com aquele defeito. Mas, o traste responsável por aquele insulto, por certo, era o artesão. Claro que sim! Esta foi a conclusão de ambos os reis. Pois aquele detalhe já era para um artista do ouro saber, sem precisar de alguém explicar!
Bem, bem, bem... meu caro leitor!
Dias depois, ninguém sabe como, um certo artesão teve ajuda e fugiu da masmorra.
E, quando o rei visitante viajava de volta ao seu reino, com toda a sua comitiva, no caminho por entre montanhas, ele e seu real cavalo foram esmagados por um ovo gigante (pesando toneladas) que deslizou lá do alto arrastando junto uma avalanche de pedras, devastadora. E quase não escapou vivo qualquer um, homem ou cavalo, que estivesse junto ao monarca naquele momento.
E, desde aquela data, ninguém viu mais o artesão.
:::::::::::::::::::::::::::::
Moral da história (estória) ---------- Nunca conte com o ovo de ouro no fundo da galinha, seja ela qual for.