O PROBLEMA É QUE AQUI NÃO TEM UNIÃO?

Eu não sei exatamente o porque isso aconteceu, mas, quando eu trabalhava na Prefeitura, uma vez, durante uma semana inteira, ficamos sem o precioso açúcar no nosso departamento (de obras); parece que a pessoa responsável "pelo açúcar" e, outras coisas, se esqueceu de fazer o pedido ou algo parecido, e é necessário fazê-lo atentamente, pois, se se esquecer demora muito para chegar o produto requisitado, o fato é que já fazia três dias que nós estávamos tomando café amargo e o meu amigo Simplício teve uma ideia super legal, ele pediu dez centavos para cada a pessoa da nossa seção, porém, nem todos gostaram dessa ideia.

Havia dois grupos distintos e rivais, dois grupos bem radicais, um que apoiava o atual prefeito e o outro grupo que apoiava o ex-prefeito, e era neste ambiente que mais parecia uma zona de guerra que este Poeta aqui trabalhava.

O Cachorrão apoiava o ex-prefeito e quando o nosso herói pediu os dez centavos para o Cachorrão ele disse:

-- Eu não vou dar o meu dinheiro para bancar o Partido Vermelho que tem uma estrela para ele comprar açúcar não!

E ele pegou uma enorme chave de fenda e correu atrás do Simplício para pegá-lo, suponho que ele queria mesmo matá-lo.

Quando eu cheguei a minha seção, pois, eu não estava na hora dos dez centavos do Cachorrão, porque, o Lico e eu saímos para atender um pedido de conserto do portão numa creche, isso faz parte da nossa função.

Logo que desci do caminhão que nos trouxe: o Simplício veio correndo ao meu encontro (é uma pena que eu não possa reproduzir a maneira como ele fala) e ele disse:

-- Poeta, Poeta, aqui não têm união, aqui não têm união!

E ele tentava explicar, mas, estava muito emocionado e eu tive muita dificuldade em entendê-lo, mas, basicamente ele disse repetindo várias vezes " Poeta, aqui não têm união " e me contou que pediu os dez centavos para o Cachorrão; e quase já chorando me contou toda a história da falta de açúcar e repetiu " Poeta, aqui não têm união, Poeta " e eu o abracei e fui andando ao seu lado e consolando ele; ele é um amigo bem querido.

E eu disse a ele: -- Mas, Simplício a culpa disso é toda sua, sabia?

-- Minha, minha... Minha?

Ele fez um bico do tamanho do mundo.

-- Sua sim...

-- Não acredito que você acha mesmo que eu tenho uma parte na culpa disso...

-- Acho sim, e com certeza, não é parte da culpa não, ela é toda sua...

-- Mas, Poeta, aqui não tem união, eu só queria dez centavos apenas para todos nós tomarmos café bem adoçado, o que tem isso de mais? Por que é minha culpa, então? Aqui não tem união, este é o problema! A culpa é porque aqui não tem união!

-- Simplício, meu amigo, é exatamente este o problema, e você não pode entender...

-- Poeta, eu não estou entendendo...

-- Sim, Simplício, foi isso que eu lhe disse, você não entende...

-- Então me explique? Mas, eu ainda acredito que o problema aqui é porque aqui não tem união...

-- Simplício, mas, é isso que eu estou tentando lhe explicar...

-- Então, explique direito logo, uai!

-- Meu amigo, entenda, por favor, se aqui tivesse UNIÃO não precisaria de você arrumar uma tremenda confusão com as pessoas só para pegar dez centavos, era só você ir lá na UNIÃO e pegar o açúcar e adoçar o café, sem briga alguma. E só na UNIÃO tem união mesmo!

Ele não achou a menor graça, disse que ele não estava falando sobre a usina de açúcar UNIÃO e sim união de amizade, e de trabalhar para o bem-comum.

Depois eu fui ver o Cachorrão, ele também é meu amigo; ele era separado da mãe dos filhos dele, por isso sofre muito, ele a ama bastante, ela não o quer de volta porque ele aprontou com a prima dela, isso já faz dez anos; ele nunca mais ficou com outra mulher. Por isso e por muitas outras questões que ele é bem bravo e irritado, e quando ele está "com aquela cara" ninguém nem olha para ele e muito menos chega perto dele.

Mas, neste dia eu estava super feliz, e quando eu o cumprimentei ele já foi avisando:

-- Poeta, nem vem falar comigo hoje, pois, estou bravo demais! É o pior dia da minha vida! Hoje eu não falo nem com o tal do Papa! Hoje eu amanheci "com a cachorra louca"!

Então, ao ouvir isso, e ver a cara de bravo que ele estava, ao invés de eu sair rápido dali: dei um abraço nele, quase o derrubei da sua cadeira quando o levantei lhe abracei bem fortemente e ele ficou sem entender nadinha e eu lhe disse:

-- Parabéns!!! Parabéns!!! Parabéns!!! Namorada nova, heim, Cachorro? Finalmente vai se casar novamente! Parabéns ao mais novo casal!!!

Todo mundo riu muito, até o próprio Cachorrão, e também o Simplício riu disfarçadamente com medo do mais novo noivo deste louco canil.

Isaías Amorim