Portugal digital
E para a felicidade geral da nação, Portugal entrou na era digital. Maravilha das maravilhas, com a vantagem extra de o fazer antes que o fizesse o Brasil. Trepidação e antegozo generalizado.
E a providência mais imediata do Governo lusitano foi expedir uma nota circular, digital por sinal, que instruía a exclusão imediata de todos e quaisquer arquivos impressos. Tudo, tudo a partir dali ia ser na telinha. E adeus entulhos de papelada.
Recebida a notificação numa Embaixada, o Sinhoire Embaixadoire convocou a sua fiel secretária e determinou a execução da ordem, assinalando:
- Agora, senhora Aurora, vamos d'uma vez por todas nos livrar de tanta papelada, graças aos benefícios da digitalização...
Ao que a secretária, que já havia lido e relido a determinação do Governo de Lisboa, tão-somente indagou o chefe, a guisa de um mais cabal esclarecimento:
- Excelência, juntada toda essa pap'lada, devo triturar, ou incinerar...?
Ao que, sorridente, o Embaixador responde:
- Fica a vosso critério, dona Aurora, sem mistério, mas que seja de imediato, antes que as p'ssoas de Lisboa venham a mudar d'ideia...
A única condição que estab'leço é que, por precaução - nunca se sabe o dia de amanhã - assim, determino, a senhora antes de executar a ordem, faça uma fotocópia de cada página que for destruída...