O MOÇO POBRE
O sujeito era pobre, paupérrimo, matava cachorro a tapa, não tinha onde cair morto... Pobre, pobre de dar dó. Mas só tinha 22 anos, e não era feio; bem apessoado, de boa aparência; exagerando um pouco se podia até dizer que era bonito. Não era tímido, sabia se expressar e era honesto – o seu bem mais valioso. Queria namorar e casar com a moça mais rica e mais bonita da cidade. Por que não? Fez várias tentativas de emplacar pelo menos uma amizade, sem sucesso. Ela o desdenhava, se sentia ofendida por ser assediada por um pobretão, um zé ninguém, um pé-rapado, morto-a-fome, e por aí vai. Empinava o nariz e se afastava quando ele se aproximava. Que saco!
O pobre coitado, percebendo, por fim, caindo a ficha depois de levar muitas patadas, resolveu desistir daquela garota, que era como se fosse de outro planeta, e procurou a moça mais pobre, tanto quanto ele, que sempre olhava para ele e sorria, o seu sorriso lindo, de garota pobre, é verdade, mas mesmo assim lindo. Ela era interessada nele desde muito tempo, mas ele não percebia, porque os seus olhos estavam na garota mais bonita e rica.
De repente percebeu que aquela, sim, a pobre, era a sua alma gêmea. Dividiria com ela a sua... O quê? A sua pobreza. Dividiriam a pobreza entre eles, e o amor compensaria a falta de outras coisas.
Em uma semana estavam noivos e faziam planos para o casamento. Pobre é assim, não tem chamego, não tem chove-não-molha nem mimimi.
E como a sorte é pra quem é, e não pra quem quer, no final daquela semana em que planejavam o enlace matrimonial, o rapaz pobre foi sorteado na mega sena. E, de pobre, passou a milionário da noite pro dia.
A garota “rica” tinha feito a terrível descoberta que o seu pai estava falido, no fundo do poço, arrasado, detonado, fu... basta! E é claro que logo ficou sabendo que aquele rapaz, pobretão, que era apaixonado por ela, tinha ganhado o prêmio milionário na loteria. Sem perda de tempo foi procura-lo. Não sabia que ele estava comprometido com outra. E mesmo que soubesse, ninguém era páreo para ela. Ninguém a recusaria por uma garota qualquer.
Mas qual não foi o seu desapontamento, sua frustração, seu arrependimento, sua humilhação, seu tremor de lábios e marejar de olhos, quando ele lhe disse que ia se casar com uma garota pobre, que o amava e o quis enquanto ele não tinha onde cair morto, que estava disposta a enfrentar a vida juntos e dividir o nada que não tinha com ele; e agora ele dividiria meio a meio os seus milhões com ela e seriam felizes.
A fila andou, o bonde passou, o barco zarpou, e ela ficou a ver navios e gaivotas piando no ar.