fRiCçÃo CiEnTíFiCa: aDORIAdores de Vírus
Este é um mini-midi conto inspirado numa sugestão do escritor Affonso Luiz Pereira, nosso mestre do suspense sobrenatural, dos “causos” e da literatura de Realismo Fantástico.
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Os “aDORIAdores” de Vírus
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Sentindo-se preso dentro daquele mundo planificado que não orbitava em elipse, mas que, assim se poderia dizer, “aderia” às revoluções de corpos arredondados que pareciam girar mutuamente ligados em atração gravitacional, Timóteo duvidava que tivesse muita chance de escapar ainda vivo daqueles seres que brotavam do chão fofo.
Até o momento, tudo o que conseguira de efetivo limitava-se apenas ao seu êxito em usar a enorme pá mecânica de controles automatizados (porém precários) para fatiar o chão por baixo e arrancar aquelas enormes plantas carnívoras ainda vivas, encurralando-as naquele ambiente quente e apertado. Em caso de que alguma morresse cortada pela pá mecânica, haveria forte risco de que exalasse um gás venenoso contendo moléculas altamente contaminadas por um vírus de letalidade rápida que já havia ceifado vidas.
Tratavam-se de germinações inadvertidamente cultivadas pelos colonos agricultores das vizinhanças, a partir de sementes enviadas clandestinamente e cuja origem era uma região terrestre (cartografada como “país”) chamada de China. Em questões de horas, para desespero de quem acreditara estar plantando uma inofensiva “plantinha comestível sem nome”, cada uma delas passou a brotar, já desde poucos dias atrás... e... de forma assustadora alguns grupos delas surpreenderam e engoliram seres humanos ao se revelaram carnívoras, pois eram capazes de (nesse espaço de tempo) atingirem até três metros de altura – caso contássemos com o topo de cada cabeça em forma de ostra dentada.
Timóteo acabou trancando-se na cabine, pois havia perdido o controle da pá mecânica que travou encalhada nos entulhos – um tanto virada e sem tração suficiente para que ele se evadisse dali.
Felizmente, Timóteo havia conseguido enviar um pedido de socorro ao único homem que seria capaz de acessar aquele mundo planificado para cumprir o restante da tarefa, que consistiria em provocar o deslocamento de toda aquela absurda população vegetal até o ponto onde, de forma segura, pudesse ser criada uma explosão generalizada cronometrada de modo a que ele e seu herói salvador sobrevivessem – e isso dentro de apenas alguns minutos, antes que as criaturas conseguissem arrombar as estruturas de aço. E, pelo que constava no localizador (popularizado pela sigla GPS), teria ainda que aguentar apenas mais um minuto até que o habilidoso amigo e herói adentrasse a cabine. Foram os sessenta segundos mais longos de sua vida. Até que o Dimas finalmente pareceu materializar-se dentro da cabine, de onde se podia escutar o sibilar das plantas carnívoras que, pelos estrondos, já davam mostras de que iriam a qualquer momento arrebentar a estrutura de aço lá atrás.
Dimas, o herói salvador, apenas com as mãos e os pés, conseguiu fazer algo que o Timóteo nunca se sentiria com habilidade para fazer em coordenação tão rápida... porque aquela pá mecânica, que havia usado minutos atrás, era algo que aprendeu a controlar de forma autodidata.
Sob o comando das mãos e pés poderosos de Dimas, todo aquele imenso mundo planificado em forma de imenso baú de aço (muito conhecido dos terráqueos) – que na verdade era um longo transporte de carga chamado em língua portuguesa (brasileira) de “carreta” – foi movido do lugar em velocidade altíssima, o suficiente para alcançarem uma enorme área descampada onde foi possível dinamitar toda a estrutura juntamente com os vegetais assassinos, uma vez que o tal vírus não resistiria, jamais, ao fogo.
E quanto às plantas que ficaram para trás, que o Timóteo não havia conseguido aprisionar dentro da carreta-baú?
Bem, o plano era convocar uma brigada militar com lança-chamas – antes que o governador João Doria conseguisse uma liminar no STF para proibir a matança daqueles seres vegetais que somente a China (proprietária) poderia autorizar a que fossem exterminados.