SÃO JORGE E A LAGARTIXA
Havia, numa cidade próxima ao Rio de Janeiro, um padre que sofria de "exagero verbal patológico" (diagnóstico meu; ou seja, mentiroso mesmo).
Ele era recém chegado na paróquia, e os fieis já tinham começado a notar o problema... E o pobre padre viu sua igreja se esvaziando a cada domingo; nem na Páscoa deu "ibope"!
Desolado, procurou o sacristão, que lhe foi absolutamente sincero:
"-É que o senhor mente muito, as pessoas percebem, e se afastam."
"-Mas o que eu vou fazer? Eu me empolgo, vou falando, falando, e quando vejo, já exagerei."
"-Tenho uma ideia: eu vou amarrar um barbante no dedão de seu pé e fico lá da Sacristia ouvindo a missa. Qualquer exagero, dou uma puxadinha, o senhor sente e diminui um pouco a sua fala".
"-Puxa, você faria mesmo isso por mim?"
"-É claro, pode contar comigo."
Acordo feito, no domingo seguinte, lá estavam padre e sacristão em suas posições, como combinado. O padre então começou:
"...-Porque São Jorge matou um dragão que ia daqui até São Paulo..."
Sentiu uma puxadinha no dedão, e então emendou:
"-Não, não, me enganei. O dragão ia daqui a Itaperuna..."
Mais outro puxão ele sentiu.
Nisso, entra um ladrão na Sacristia e o sacristão se atraca com ele. Soco de lado, soco do outro, se embolaram feio.
O sacristão finalmente conseguiu desmaiar o ladrão e viu que não soltara o barbante durante o embate. Desesperado, botou as mãos no rosto:
"-Meu Deus, o padre!"
E foi espiar. Lá estava o padre:
"-Que nada, São Jorge matou foi uma merda de uma largatixinha deste tamanhinho..."