Algarismos novos - escrito por Zeca Quinha, para o Zeca Quinha Nius
No dia 7 último, no congresso de Matemática realizado no auditório da Universidade de Pindamonhangaba, o eminente professor, e doutor catedrático, da Universidade de Pindamonhangaba do Sudoeste, o senhor Sebastião Cálculo de Cabeça Marcondes, apresentou as suas recém-concebidas concepções abstratas da ciência matemática após trinta anos de dedicação aos estudos desta nobre ciência. Com sete livros publicados no Brasil, o seu nome é conhecido entre os seus pares e os seus ímpares. A sua genialidade é reconhecida por todos os intelectuais brasileiros, que dele enaltecem a inteligência privilegiada e a originalidade das concepções de sua criação. Temos de salientar um ponto, que chama a atenção de todos os intelectuais nacionais: os países ricos, em particular os Estados Unidos da América do Norte, recusam-se a lhe reconhecerem os méritos, inegáveis, pois, se os reconhecessem, teriam de reconhecer o fracasso do sistema educacional deles e o sucesso do sistema educacional brasileiro, o que, e ninguém o ignora, atrairia investimentos para o sistema educacional brasileiro, e menos dinheiro lhes sobraria, e o Brasil se enriqueceria, e os países ricos se empobreceriam; daí a má-vontade deles em atribuir aos estudiosos brasileiros o seu valor merecido.
O doutor Sebastião Cálculo de Cabeça Marcondes, durante a sua palestra explicou a sua concepção matemática abstrata. Da sua palestra apresentamos um trecho:
- O senhor, senhor doutor Marcondes, pode apresentar-nos o ponto principal da sua teoria?
- Não só posso – respondeu o doutor Sebastião Cálculo de Cabeça Marcondes -, como irei. Para a sua pergunta tenho uma resposta, e apenas uma resposta, e não mais do que uma resposta; outra pessoa, no meu lugar, mas não qualquer outra pessoa, teria duas respostas, ou mais de duas respostas, sendo que uma, ou mais de uma, delas, seria a correta, ou as corretas, e as que não fossem a correta, seriam as erradas, de acordo com as suas correções ou incorreções. Tenho certeza de que as explicações que darei, apresentadas na única resposta que a sua pergunta carece, estará ao alcance do seu entendimento e do entendimento de todas as pessoas que dela tomarem conhecimento, e de nenhuma outra pessoa. Vejamos: A aritmética que conhecemos, que é a que conhecemos, e é, também, a que muitas pessoas desconhecem, o que não a altera, é produto antiquado, desenvolvido, há milhares de anos, por povo rudes, supersticiosos, ignorantes das coisas cientificas, que acreditavam em seres divinos inexistentes. Sustenta-se em dez algarismos: zero, um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove e dez. É o famoso e proverbial sistema decimal. Algarismos estes que associados podem constituir infinitos números, o que produz infindáveis confusões e dores de cabeça às pessoas, que mal podem compreendê-los.
- O senhor, doutor Marcondes, pode sustentar a sua tese com exemplos?
- Não só posso – respondeu o doutor Sebastião Cálculo de Cabeça Marcondes -, como irei. Vejamos: Ouça-me atentamente: Se escrevermos dois algarismos um em sequência ao outro, formaremos um número, que será maior do que nove caso o primeiro algarismo que o constitua não seja o zero. Por exemplo, se escrevermos o algarismo ‘um’ seguido do algarismo ‘quatro’, daremos forma ao número 'quatorze'. Neste exemplo, o caso é simples, mas, e se escrevermos o algarismo ‘nove’, seguido do ‘sete’ e do ‘cinco’? Aqui começa-se a complicação. Forma-se o número 'novecentos e setenta e cinco'. Embora mais complexo do que o exemplo anterior, ainda é acessível ao cidadão comum. A brincadeira deixa de ser divertida quando escrevermos números na casa das centenas de milhares e nas das casas das unidades de milhares de milhares. Vejamos um exemplo: O algarismo ‘sete’ seguido pelos algarismos ‘cinco’, ‘quatro’, ‘oito’, ‘nove’, ‘três’ e ‘seis’. Escreva-os, e leia-os. Os sete algarismos escritos como constituintes de um número, constituirá o número 'sete milhões, quinhentos e quarenta e oito mil e novecentos e trinta e seis'. Escreva-o, e leia-o. Quase todas as pessoas se confundirão ao tentar lê-lo, e para não se confundirem contarão quantos algarismos o constituem para, então, conhecerem em que ordem está o número, e só então irão lê-lo.
- O senhor, na sua tese fala da sequência dos algarismos na composição de um número. Pode o senhor dar-nos um exemplo?
- Não só posso - respondeu o doutor Sebastião Cálculo de Cabeça Marcondes -, como irei. No número que citei como exemplo, 'sete milhões e quinhentos e quarenta e oito mil e novecentos e trinta e seis', há uma vez cada um dos seguintes algarismos: ‘três’, ‘quatro’, ‘cinco’, ‘seis’, ‘sete’, ‘oito’ e ‘nove’. E cada um deles está em uma casa decimal. Vejamos. O número 'sete', mantido na casa das unidades de milhares de milhares, tem o valor correspondente a sete milhões, mas, se removidos os outros algarismos, tem apenas o valor de sete. Os algarismo ‘oito’ e ‘nove’, sendo de maior valor intrínseco do que o algarismo 'sete', no número citado no exemplo, têm, respectivamente, o valor de, conservados nas casas numéricas em que se encontram, ‘oito mil’ e ‘novecentos’. Prestou atenção? O algarismo 'nove', dos três algarismos que usei nesta explicação, é o de maior valor intrínseco, absoluto, mas o de menor valor relativo, porque se encontra na casa das centenas, enquanto o 'sete', como eu já mencionei, está na casa das unidades de milhares de milhares e o 'oito' está na casa das unidades de milhares. Até aqui, destaquei um ponto da confusão da aritmética convencional, antiga, e, ouso dizer, que não atende aos valores originais do Brasil. Agora, destacarei outro ponto, tão importante, ou mais importante, e que também merece destaque. E eu o destacarei. Diz respeito ao valor de um algarismo. Ponho em destaque, para desenvolver o explicação, o algarismo ‘quatro’ do número que apresentei como exemplo. Ora, o 'quatro', situado onde está, tem o valor de quarenta mil. E se eu trocá-lo de lugar com o algarismos ‘cinco’, ele assumirá o valor de quatrocentos mil, e se eu trocá-lo de lugar com o algarismo ‘seis’, ele assumirá o valor de quatro. Aqui, a complicação. O algarismo ‘quatro’, dependendo da casa numérica que ocupe, adquirirá um valor, valor que não é dele, não pertence a ele, mas que ele o adquire dependendo da casa numérica que ocupe, e tal condição é injusta e produz confusões insolúveis. Ora, cada algarismo tem, segundo a matemática, o seu valor. Segundo os princípios elementares da ciência dos algarismos que concebi, um algarismo não pode adquirir um valor que não lhe pertence. É justo o algarismo ‘quatro’, cujo valor absoluto corresponde a quatro, ter o valor de quatro mil simplesmente porque ele ocupa a casa numeral da unidade de milhar, e, caso ocupe a casa das centenas de milhares de milhares, adquira o valor de quatrocentos milhões? Não. É do ponto de vista social, injusto; e do ponto de vista psicológico, assustadoramente pernicioso tal cultura matemática, que transmite aos cidadãos brasileiros mensagem que lhes perturba o espírito. E é de grande ressonância política: a de que basta um brasileiro mudar de casa que adquirirá outro valor social. Isto é nefasto para a ordem social. Devastador.
- E o que o senhor propõe? O senhor pode nos dizer qual é a sua proposta?
- Não só posso dizer qual é - respondeu o doutor Sebastião Cálculo de Cabeça Marcondes -, como direi qual é. Vejamos. Pensei: para que os algarismos conservem o seu valor absoluto, intrínseco, é necessário que ele o conserve, e não o perca sempre que mudar de casa numérica. Iluminou-se-me, então, a cabeça uma idéia, que, reconheço, e todos os matemáticos brasileiros que a conheceram também reconhecem, é genial, é original: A concepção de infinitos algarismos. Para cada algarismo um símbolo numérico, assim cada algarismo terá o seu valor, único e intransferível, e, íntegro, não se alterará jamais.
- E como os cidadãos brasileiros memorizarão todos os infinitos algarismos? O senhor pode nos dizer?
- Não só posso - respondeu o doutor Sebastião Cálculo de Cabeça Marcondes -, como irei: Memorizando-os. Para memorizá-los, basta memorizá-los. Com um pouco de esforço e boa-vontade, as dificuldades serão superadas. Que cada cidadão brasileiro empregue a sua memória para memorizá-los.
Este trecho da entrevista é revelador do teor substancioso da concepção abstrata do gênio brasileiro, o doutor Sebastião Cálculo de Cabeça da Marcondes, cuja genialidade, original, revolucionará a matemática moderna.
Todos os participantes do congresso de matemática enriqueceram-se com as concepções originais do insigne matemático brasileiro.