Ferreirinha em Canoa Quebrada
Dejacir, sempre promovia picnics a praias isoladas. Canoa Quebrado foi um desses destinos.
Quem me convidou foi Fátima, colega de classe no secundário, marcamos sábado às 14:00h, na praça José de Alencar. Ao chegar Fátima já estava aguardando, me abraça e diz; Vamos entrar, Ana Lucia está com um amigo quardando nossas cadeiras. Pra minha surpresa o amigo da Ana Lucia era o Ferreirinha. Olhamos um pro outro, rimos e nos abraçamos, Fátima e Ana Lucia ficam olhando pra nós, então falo; Ferreirinha é como um irmão, fomos criados juntos. Ele completou; Pois é, dei muito trabalho a mãe do Claudo. Então pergunto; Ferreirinha, como vocês se conheceram? Ferreirinha responde; Estava passando pela praça e perguntei a elas pra onde esse ônibus tava indo, quando soube que era pra Canoa Quebrada, resolvi conhecer e cá estou.
Eu estava de olho na Fátima, mesmo ela sendo evasiva às minhas investidas. Sentamos e logo Dejacir passa recolhendo o dinheiro das passagens. Chega nas nossas cadeiras, enquanto pago às passagens, ele olha piscando pra Fátima e fala; Se você não der conta do garoto, eu ajudo. Fátima dá uma risada e responde; Vá procurar outro macho, esse gosta dessa fruta aqui. Disse batendo nas cochas, o que me deixou animado.
Saímos da Praça José de Alencar as 17:00h. Ao iniciar a viagem, Dejacir abriu um litro de cachaça na cadeira da frente, sem copo, cada passageiro tomava sua dose na boca da garrafa, passava pro passageiro do lado, que passava pro passageiro do assento de trás, quando secava, ele abria outra e trocava pelo litro vazio até que, quem estivesse na última poltrona tomasse a sua dose, voltava o litro pro primeiro assento e recomeçava.
Entrando na BR 116, só quem estava sóbrio era o motorista e o ajudante dele.
Anoitecia já próximo ao triângulo de Aracati, bexiga cheia, vou até o motorista e peço pra parar pois tinha que tirar água do joelho, ele diz pra eu segurar um pouco porque não tinha acostamento e era muito perigoso parar na pista. Falei pra ele que se não parasse ia mijar ali mesmo, ele pergunta; Se eu abrir a porta você tem coragem de mijar com o ônibus rodando? Respondi; Abre logo!!! O ajundante do motorista ficou segurando meu braço. Foram alguns quilometros aliviando a bexiga sob risos e chacotas, no final, aplausos!!!
Chegamos a Canoa Quebrada o percurso até a praia tinha que ser feito a pé. Parte dos passageiros desceram e eu entre eles. Nenhuma barraca aberta, voltei pro ônibus. Fátima meio assustada pede pra não sair de perto dela, pois estava sendo assediada, sentei do lado da janela, ela deitou a cabeça em meu ombro então chega um sujeito nos incomodando, peço pra ele deixar a gente em paz e recebo um tapa no pé do ouvido, cheguei a escutar a FM Canoa décadas antes da inauguração. Levanto num pulo e parto pra cima do cabra que já tava segurando no apoio do teto, me dá uma voadora nos peitos, levantei na mesma velocidade que caí, parto novamente pra cima do cabra, o ajudante do motorista me segura, enquanto meu agressor recebia uma gravata do motorista. Ferreirinha aproveita e desfere um soco na cara do sujeito. Tento ir pra cima e o ajudante do motorista me empurra entre as cadeiras e diz fique aí. Nem discuti... Pegam meu agressor e Ferreirinha e jogam pra fora do ônibus. Ana Lucia corre atrás do Ferreirinha. Tento ir também, mas sou inpedido pelo motorista. Na confusão nem vi onde foi parar a Fátima. Dejacir vem ver como estou, pede desculpas pelo fato, pergunto pela Fátima. Ele diz que desceu do ônibus correndo, tento ir atrás dela, mas não deixam. Pouco depois todos começam a voltar pro ônibus e se atualizam com os acontecimentos, alguns se acochegam pra dormir, então me chega uma moreninha linda, me pede desculpas. Pergunto Porque. Ela responde que o meu agressor é irmão dela e estava bêbado e sempre foi apaixonado pela pela Fátima. Como sempre fui um bêbado compreensivo, aceitei as desculpas dela. Passou o gosto de sangue na boca e a vontade de comer o fígado do sujeito, afinal um pedido de desculpa, só não desarma o mais imbecil das bestas.
Nada de Fátima, Ferreirinha e Ana Lucia.
Amanhece, começamos a nos preparar pra descer até a praia, desci do ônibus, meu agressor estava dormindo encostado a roda traseira com um cachorro lambendo sua cara, penso que pelo menos ele conseguiu companhia.
Lembro que minha mochila estava com Fátima, meu calção de banho, camisetas, toalha e material de higiene pessoal estava na mochila e eu usando somente calça jeans. Falo a respeito, então um rapaz, diz; Amor eu tenho uma sunga extra, se você quiser te empresto. Aceito e agradeço, ele me passa a sunga, olho, acho pequena e parecendo mais uma calcinha mas, o Fernando Gabeira já tinha usado uma parecida na praia de Copacabana no RideJanêro. Peguei a sunga, agradeci e desci do Ônibus, no que fui seguido por outros passageiros.
Fomos até a praia em busca da barraca mais próxima, que ainda estava fechada. Encontramos Ferreirinha e Ana Lucia dormindo agarradinhos usando duas mesas como cama. Alguém diz que pareciam Adão e Eva no paraíso. Me aproximo, dou uns tapinhas na sola do pé do Ferreirinha, que diz; Amor deixa eu me recuperar... Respondi; Ferreirinha, acorde, sou eu o Claudo. Ele abraço Ana Lucia e diz; Então apaga a luz baitola... Desisto, resolvo entrar no mar, vou atrás da barraca e troco a calça pela sunga, sinto as coisas apertadas, mas acomodo o incomodo. Coloco calça e carteira na mesa onde Ferreirinha está. Ao voltar do banho de mar, Ferreirinha me olha e diz; Claudo você tá linda nesse biquíni. Respondi; Diabeisso Ferreirinha? Tu não sabe nem a diferença de um a sunga pra um biquíni? De repente Fátima chega acompanhada com um sujeito de meia idade com pele curtida por anos de sol e solta um bom dia daqueles que a gente só dá se a noite tiver sido maravilhosa. Perguntei; O que aconteceu? Você sumiu e a gente ficou preocupado!!! Ela respondeu; Sei lá, só sei que com a briga corri até dizer chega e acabei chegando numa casa que não tinha, nada e ninguém a não ser uma lamparina acesa e uma rede armada, cansada da correria, deitei e dormi que sonhei, acordei com ele deitado comigo. Pergunto pela minha mochila que estava com ela. Ela diz que deixou na casa. Olho pra ele e pergunto; Amigo, podemos ir lá pegar minhas coisas? Ele responde que não vai porque estava na hora de abrir a barraca. Fátima se oferece pra ir comigo resgatar a mochila, dá um beijo no cara e diz; Meu amor, volto logo pra lhe ajudar. Fizemos o caminho sem conversa, mochila resgatada voltamos, barraca lotada, Fátima começa a servir as mesas, isso persiste por todo o dia, chega a hora de irmos pro ônibus iniciar o retorno à Fortaleza.
Fátima ficou pra sempre em Canoa Quebrada.
No sábado seguinte me encontrei no bar Falastério com vários amigos feitos durante o passeio. Celina, irmã do cara que me deu a voadora, me apresenta sua irmã Cely e namoramos até Ferreirinha nos aprontar uma de suas presepadas.
Voltei a Canoa Quebrada em outras ocasiões e Fátima continuou com seu cara de meia idade, hoje onde era a barraca existe uma pousada gerenciada por sua filha.
Fátima se foi de tristeza, um mês depois do falecimento do seu marido.
Dejacir passou a promover a festa do branco no Conjunto Ceará.
A última vez que vi parte desse pessoal foi no Encontro de Amigos Anos Oitenta.
Logo depois saí com o Ferreirinha em aventuras pela Amazônia. Mas isso é outra história.