E o guarda chorou... – (No Trânsito)

Ficou de butuca sobre a mensagem passada pelos outros patrulheiros do trânsito. De repente, o veículo apontado como em altíssima velocidade despontou visível a 300 metros naquela rodovia perimetral.

Sinalizou desde os 100 metros de aproximação para que o motorista soubesse que teria de parar no bloqueio. Num piscar de olhos, já não eram senão 10 metros de distância e o motorista-piloto conseguiu parar o carro sem cantar pneus.

Na abordagem, já com o vidro abaixado, a visão era de um motorista sem acompanhante e, portanto, claramente não se tratava de um socorro a doente ou acidentado.

- Que pressa é essa, amigo? O que foi que houve?

O motorista soltou a "máscara-curral-OMS" de uma das orelhas e se inclinou para a janela do carro, fazendo sinal de que iria se explicar. O guarda conseguiu notar um rosto familiar, como também o cabelo meio crescido.

A explicação não veio, mas apenas um pedido de desculpa com alegação de que nem havia notado que o carrão tinha alcançado 200 km por hora e que o “bicho” era ligeiro demais.

Foi a multa mais dolorosa que aquele guarda de trânsito aplicou, em toda sua carreira, com os pontos na ficha do motorista devidamente descontados.

O guarda chorou muito, horas depois, pela decepção. Nunca houvera imaginado que um dia aplicaria uma multa por cometimento de altíssima velocidade no seu ídolo que compôs e gravou a música:

- “Ando devagar, porque já tive pressa”.

O guarda aplicou a multa com muita pressa, mas depois chorou demais, de tanta decepção porque sempre achou que seu ídolo gostava apenas de andar devagar em cima de um cavalo em trote lento. E nunca vai perdoar o artista Almir Sater que, além de tudo, mostrou-se fã de máquinas poderosas poluidoras da Natureza e capazes de matar.

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Da série: “LÊNDEAS E PIOLHOS DA ESTRADA”