PEQUENA TRAPALHADA

Tia Luísa é uma pessoa por quem tenho o maior carinho, é a figura mais engraçada com quem já convivi e olha que juntando as figuras hilárias da minha família e da família da minha amada esposa dá uma praça é nossa e ainda sobra um pouquinho para interar a zorra total. Tia Luiza é a segunda mulher com quem o tio José Medeiros casou-se. Não me lembro de tê-los visto brigando. Tiveram três filhas: Vanda, Franci e Francisca Fancineuda Medeiros. Minha tia Luiza sentia muito porque seu filho mais velho nasceu morto. A fazenda da minha tia tinha mais ou menos uma vaca e umas duas cabras. Ao lado da casa tinha um pé de cabaça, eu disse cabaça, que me custou um bocado de carão, nunca vi minha tia tão nervosa, só por que eu tinha quebrado a cabaça dela. Minha tia Luiza costumava cortar o seu próprio cabelo e até que ficava bem engraçadinha. A frase mais célebre dela é: EU ME INTENDO É CUNS GRANDE. Um dia ela me contando um entrevero que teve com uma pessoa que não lembro bem o nome, ela dizia mais ou menos assim e eu ria muito da forma peculiar como ela falava: “Porque eu sou é Luiza do Zé Medeiros e eu me intendo é cuns grande, eu diche, ora rapaz, num ta vendo que eu num vou aceitar uma coisa desta rapaz, só seno mêrmo, rum, olha pra mim mermão, tu pensa que eu não sou entendida? Quer me fazer de besta rapaz? eu fui à cidade e já falei com o cumpade Gonçalo, com o Pedro da Jove, com o João Duruteu, com o Chico Adilino por que eu sou é Luiza do Zé Medeiros e me entendo é cuns grande”.

Outro dia aconteceu um fato muito engraçado, minha tia Luiza já velhinha esteve hospitalizada e quando ficou de alta, o médico lhe disse:

— Dona Luizinha, a senhora pode ir para casa e volte em dez dias para fazer exame de sangue.

O exame foi marcado tudo certinho e quando passaram os dez dias tia Luiza estava indisposta e não teve condições de comparecer por que morava há uma légua do hospital e a dificuldade de transporte era grande, no entanto, a prima Vanda que sempre gozava de boa saúde, se foi a pé, chegada à hora a atendente chamou:

— Dona Luiza Medeiros.

A prima Vanda entrou com o seu jeito simples, calada. A enfermeira de pronto já lhe foi colhendo o sangue. Quando a enfermeira acabou de colher o sangue, a prima Vanda timidamente lhe perguntou-lhe:

— A senhora não fica com raiva não? Eu não perguntei por que pensei que a senhora ia se impostar.

— Pode falar, eu não me importo não.

— Por que é que a senhora tá tirando meu sangue?

— É por que o médico precisa de uma nova avaliação dona Luísa Medeiros.

— Mas eu não sou a Luísa não, minha filha.

— A senhora não é a dona Luísa Medeiros não?

— Eu mesma não, eu sou Vanda Medeiros e tô só representando minha mãe, Luísa Medeiros.

Alber Liberato Escritor
Enviado por Alber Liberato Escritor em 30/07/2020
Código do texto: T7021563
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