O fraque o o fraco de Olavo
Não era à toa que Bilac era chamado o Príncipe dos Poetas brasileiros. Além daquela inspiração que porejava a todo instante e em todo o diapasão da lira poética era o rigor e o primor absolutos na construção do verso: métrica, rima, cadência, e que estilo, que inventividade...
Mas tinha um lado, um lado, digamos assim...não-condizente com sua vocação principesca: era perdulário, péssimo administrador de suas finanças...
Um belo dia, eis que Bilac adentra o atelier de seu amigo e sobretudo grande admirador, o alfaiate Augusto da Paz e após laboriosa mas bem objetiva análise das melhores telas que ali se encontravam, faz sua escolha por uma casemira inglesa inigualável e enceta um diálogo com o amigo, mago da tesoura:
- Augusto, Augusto querido: será esse o tecido para meu próximo fraque...
- Tudo bem, Olavo caríssimo. Fizeste como de hábito a melhor escolha...
Mas temos aqui o problema: irás pagá-lo adiantado, ou ao menos me dar um bom sinal?
- Oh, Augusto, me dás cada susto...
- Pois é, Olavo, que não espero que fique comigo bravo...mas já há duas encomendas tuas, ainda do lustro passado que não estão quitadas...
- Mas, Augusto, a vida não tem sido fácil para ninguém...e me conheces bem, reconheço as dívidas e vou saldá-las à primeira hora, e o juro por nossa senhora, amizade da mais casta, e nunca gasta, verdade...
- Mas...desta vez, lamento, mas não vai dar, meu Príncipe do poetar, e por esta negativa que dura sei ser, vou só me arrepender...
- Vais me entender, Augusto da Paz, meu bom rapaz: estou participando de um concurso nacional de composição musical cujo resultado se anuncia breve e se eu à cerimônia de premiação te levar, me hás certamente de ajudar...Esquece por ora os apertos pecuniários,
vamos...
- Olavo, és incorrigível na lira da persuasão...Irei contigo, far-te-ei esse abrigo, mas com uma condição que me não há de frustrar o querido amigo: quero ver meu nome inserido e exaltado em seus textos, e por sinal, o mais consagrado...
- Trato feito, amigo perfeito...
A após as medidas, o abraço terno das despedidas, e três semanas decorridas eis Olavo e Augusto exultantes da platéia do Theatro Nacional, em noite da gala, onde logo sairia, executada pela orquestra, sob aplausos mais uma vitória retumbante de Bilac, o homem do fraque mais brilhante:
...Salve lindo pendão da esperança, salve símbolo
Augusto da Paz...