Baristas: Bar Doce LAR
BARISTA – Fanático Por Bar
Há bares que vêm pra bem
(Desdizer Popularesco)
Para Aldir Blanc
Antigamente era vergonhoso confessar. Petiscos, aperitivos, encapotado de frango, drinques, bar todo santo dia, ou, melhor dizendo, todo santo dia BAR, além de rotineiros pilequinhos ao prelúdio de cada dia do tempo-rei, dava o que falar, afinal, o fígado faz mal ao álcool. Antigamente.
Antigamente era “bêudo” quem ia pros botecos da vida tomar umas e outras e mais algumas, em que pese, justiça seja feita, verdade seja dita, não foi em bar que seresteiros, namorados, poetas, boêmios, anjonautas, artistas de circo, compositores, malandros, atores e personalidades da fauna notívaga começaram a atiçar revoluções de araque, fascistas golpes de estado, assaltos a bancos com planos econômicos irreais ou o caos. Ladrão que rouba ladrão só em partido liberal ou entre ex-sociólogos canalhas.Mas, parafraseando Pablo Neruda, Confesso que bebi. Quero dizer, confesso que sou BARISTA de marca maior. Assumo de mala, cuia e cálice sagrado de rabo-de-galo, quero dizer, de Martini a Azeitona, só para citar a bebida predileta do camarada Frank Sinatra, verdadeiro pudim de álcool e bom vivant, fanfarrão, boa pinta, pegador, o maior Barista da história da Igreja Universal do Reino da Skol. Isto é que é. Barista vale mais do que figurinha carimbada do Belini. Cadê o saca-rolha?
Barista, perdoem o neologismo e a proximidade borgiana com o micro-ensaio etílico propriamente dito, é o cara que bebe sim, e vai vivendo, mas tem emprego fixo, carteira assinada sim sor, trabalha pra caraca, estuda como um mago, não é viciado ou alcoólatra anônimo, muito menos dá vexame, nem fica violento ou regurgita biles. Gosta do rotineiro póint pop, do habitat hiper santo, do papo-aranha por atacado, da companhia cervelizada. Se tiver bilhar e um violão plangente, então, mais a lua que vem de Itararé já é cenário de alumbramento. Solta um quebra-gelo.
Um BARISTA é um boêmio por excelência, sem tirar nem pôr, sem morrer de pressão alta, de trombose ou diabetes, muito menos obesidade, apenas sudorese aqui e ali, muito menos terá tuberculose ou cirrrose hepática. É uma espécie assim, muito mal-comparando de “metrossexual” nos botecos da vida. Barista é o sujeito bem apessoado, tem bom gosto, vaidade, imagem e nome a defender e a honrar, curte o bar como seu sagrado lar de pele, topa lá diálogos e prazeiranças em reduto de elite nesse propósito, e ainda agita o baralho cigano, o dominó, e bebe socialmente mesmo, numa boa, nunca todo dia, malemal na vitória do Timão, da Seleção Canarinho, ou, religiosamente em todos os finais de semana. Não é chupim, nem néscio, nem paria ou parasita com godê, e, ainda, eclético e esclarecido não mistura bebidas, não precisa de engov, de eparema, não toma destilado assim sem mais nem menos – cada data tem sua bebida própria – é um eterno bebedor de quilate. Afinal, como disse o Chico Buarque (in Caros Amigos, chorinho), a seco ninguém segura esse rojão. Barista é barrigudo mas não é velhaco e nem vagabundo. Trabalha muito e bem. Não há homem glorioso que não trabalhe. Tem boa pinta, estilo de vida a zelar. Se algum folgadinho trocadilha que ele parece um barrilzinho de chope, ele incontinente retruca algo maldoso o chiste: -Com torneirinha e tudo! Barista tem fino humor e criatividade fora do sério. Não dá para competir.
Baristas unidos, jamais serão vencidos. Que fechem os bordéis mas não fechem os bares. Baristas são entidades sociais. Têm leitmotiv próprio. Bandeiras, sonhos, estudos, conquistas sócio-comunitárias. Jamais aprontam leviandades nos papos afinados das bebedeiras. Adoram Marx, Nietsche, Spinoza, Lorca. Bebem pelo prazer de. Diletantes. Não ficam fofocando sobre escombros alheios. Não têm inveja. Têm conquistas próprias, sábias. Não bebem para encher a cara, dar vexame, nem têm ressacas homéricas. Pegam leve, vão com calma. Apreciam. Degustam o buquê. Baristas não produzem lixo. Lêem bem, estão sempre com alto astral, não têm ficha na policia ou em boca de fumo, são da esquerda festiva e amam utopias pela própria filologia da palavra mesmo, têm crédito na praça toda, conduta civilizada, nome limpo, pagam a vista (se não podem pagar no ato não bebem), transam altos papos em tudo, e, periga ver, são clássicos cervejólogos. Alguns arriscam haikais, críticas, poemas pós-modernos – lêem Shakespeere – enquanto bebericam alhures, pensamentos ao deus-dará. Não entram em alfa. Entram em Brahma. Adoram jazz, blues. Quando não cantam ou são piadistas pela natureza de sobreviverem curtindo a vida. Solta um tira-gosto.
Baristas são companheiros-socialistas-democráticos no meio todo. Levam fósforo para os que fumam (normalmente eles não fumam – um vício só e basta); levam pastilhas pro desavisado (eles têm fígado climatizado); levam aspirina pros hipertensos; melhoral para enxaquecas matinais (se bem que Barista detesta levantar cedo e nunca têm dor de cabeça nem consciência pesada), sempre cuidam do parceiro mais fraco, não vivem às custas da mulher, trabalham de sol a sol, até porque, um Barista sem Bar e sem o outro para o diálogo vivencial, não é barista, é porrista, pinguço, maria-vai-com-as-outras. Barista é puro e solidário. Só não compra rifa falsa e nem cedê cabritado para não alimentar o informal crime organizado. Barista não freqüenta Orkut. Quem tem orkut tem medo.
Barista de vez em quando vai à igreja. De preferência aos domingos especiais. Dia do Senhor (adora o Sermão da Montanha.) Adora gibis velhos com cerotos de usos engurizados. Adora chimarrão, churrasco de sal grosso, dinheiro, sexo e mulher, e sabe que, sim, mulher, futebol, religião e política se discutem sim, em alto nível e conhecimento de causa. Andanças. Barista sabe que o melhor afrodisíaco é o amor. Barista não tem reumatismo, bursite, alergia. Barista tem sonhos às pencas. Barista vai pro céu. Deus adora baristas. Baristas são honestos, não pisam na bola com ninguém. São pela não-violência. Baristas sabem como multiplicar água e vinho. Fazem limonadas de lágrimas por causas justas. Barista é sempre romântico, do tipo que ainda manda flores. Ajuda, não constrange e nem ameaça. E nunca blefa. Nervosinho em bar é coisa de bicha enrustida. Tacham o Barista de garçom da santa ceia. Nasceu para servir. É pau pra toda obra. Barista é sempre sócio-bar, tem o pique dos gloriosos Anos 60, Anos 70, honra o pai e a mãe, honra a cueca samba-canção de morim-cambraia que veste, é fã do Lenon, Rivelino, Sandra Bréa, Paul Maurriat. Barista sabe que do jazz nasce a luz. Curtam essa.
Barista não usa drogas, nem cheira maconha ou cocaína. Sabe se preservar. Adora viver. Sabe que em Itararé os dias anoitecem em preto e branco porque as tardes fumam as chaminés dos fornos carvoeiros. Barista é de espírito saradinho. Boa idéia. Barista é tipo Noel Rosa do tempo que a água bebia a onça, sempre na sua; arrisca e petisca, tem palpites felizes. Salute. Bom Cynar.
Barista adora Glauber Rocha (Cinema Novo), João Gilberto (Bossa Nova), Plínio Marcos (marginália desvairada sociedade anônima), Antonio Abujamra (provocar é atacar a inércia), Ronald Golias (ô cride!), Rivelino (Patada Atômica), Luther King (Have a Dreams); tem todos os long-plays do Bod Dylan (Robert Zimermam), da Jovem Guarda, e uma vitrola antigona da Sharp que na saudade até capta a Rádio Mundial e a Rádio Relógio. Já pensou? Como saideira, seu personagem predileto na literatura é o Quasímodo.
Barista é fera. É sangue bom mas não usa gíria que envergonha o alto clero. Trocadilhando, nesses tempos de desarmamentos morais, o Barista vai procurar a sua turma e, brincando, se apresenta todo trancham para a gandaia macunaímica & malazártica:
-Mãos ao Álcool! Ou então, “Lar, Doce Bar...”
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Silas Corrêa Leite, Poeta e Ficcionista Premiado – Pós-graduado em Literatura na Comunicação – Prêmio Lígia Fagundes Telles Para Professor Escritor, quesito Poesia - Crônica da Série ERAM OS DEUSES CORINTHIANOS?
Da Estância Boêmia de Itararé, São Paulo, Brasil – Autor de Porta-Lapsos, Poemas, Editora All-Print, Série Literatura Brasileira Contemporânea
E-mail: poesilas@terra.com.br
Site: www.itarare.com.br/silas.htm
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