O CAÇADOR CIFRÃO
(À laia de Junqueiro) (*)
Jaz a honra entrevada e moribunda
Naquela Comissão estranha e paciente…
Rasga o temor discreto a onda funda
Chora a Europa convulsivamente…
Tagarela real, diz-me, quem passa?
– É o príncipe Cifrão que anda à caça.
Um Evento importante está pendente,
Todos dizem que é de caixão à cova,
Matar o “Bicho” é de assunto urgente
E há verbas essenciais que estão à prova…
Tagarela real, diz-me lá o que se passa?
– Há Ovelhas negras a fazer devassa.
As almas dobram por alguém finado…
Morte perplexa, lastimoso pranto!...
Sai das bolsas vazias triste fado,
Fado farto d´enjoo e desencanto…
Tagarela real, diz-me, quem passa?
– É el-rei dom Cifrão que anda à caça.
Cospe, o Capital, apostas arriscadas
Sobre o painel da Europa a palpitar…
Gritam nas almas raivas envenenadas,
Erguem-se ríspidos braços a ameaçar!...
Tagarela real, diz-me, quem passa?
– É el-rei dom Cifrão que anda à caça.
A Comissão é torta! A autonomia é morta!
Futuro negro sem sorte, sem vinténs!
Ri o Capital ganancioso à porta
Guarda a vergonha a miséria dos bens!
Tagarela real, diz-me, quem passa?
– É el-rei dom Cifrão que anda à caça.
Em que ficamos, depois de tudo discutido,
Mais subvenções ou mais fundo-perdido?
Quem parte e reparte, sem escolher a melhor parte
Diz o povo: ou é burro ou não tem arte!
Tagarela real, o que vai naquela Praça?
– É el-rei dom Cifrão que só faz fumaça.
Anunciados projectos nunca passam
Por falta de coesão e de partilha
Ficando as máscaras que ainda disfarçam
A mera ilusão de um Graal-maravilha…
Tagarela real, diz-me onde está a graça?
– É el-rei dom Cifrão que caiu em desgraça.
Tiro à distância nesta procela fugaz!
Cirandam os Maiorais numa confusão…
Soa o Hino europeu num clarim audaz…
Ameaça Bruxelas em abjecta implosão!
Tagarela real, diz-me, quem passa?
– É o Agente da Luva negra à caça
Do caçador dom Cifrão!...
Frassino Machado
In ODIRONIAS
(*) – À memória dos Senhores de Bruxelas