COISAS DA BUROCRACIA (SÁTIRA)
Às 15h33min, o secretário-adjunto do rei do pequeno país protocolou o comunicado de guerra do país vizinho. Uma hora mais tarde, o exército inimigo invadiu a fronteira. O encarregado de defesa naquela área chamou os assessores e encarregou-os de redigir uma mensagem urgente ao rei. Depois de trocarem idéias por duas horas, e resolverem um pequeno problema (como se escrevia a palavra “assessores”), finalizaram a mensagem.
Recebida e protocolada, foi encaminhada aos canais competentes. Por azar, um dos ocupantes da linha hierárquica estava de licença-saúde e não haviam resolvido ainda quem seria seu substituto. O funcionário de plantão, chateado por não ter sido escolhido para o preenchimento da vaga, não quis receber a mensagem. Sugeriu, de má vontade, que esperassem o regresso do titular.
Quando a mensagem finalmente chegou ao rei, este deu o visto habitual e encaminhou-a ao ministro-chefe, com a seguinte recomendação: veja o que pode fazer. O ministro foi à estante e separou um dos inúmeros manuais de orientação geral do reino – o conhecido OGR, escrito não se sabe por quem.
Sabia “de cor” em qual capítulo encontrar a solução de cada assunto, não era à toa que foi nomeado ministro. Ataque do inimigo? Fronteira leste ou oeste? Temperatura úmida ou seca? A mensagem não mencionava esses itens. Ordenou que se enviasse um correio urgente, solicitando os dados que faltavam para tomar uma decisão correta.
Mandar ou não mandar reforços? – matutou o ministro, com os botões dourados de seu uniforme militar. É preciso consultar o conselho, que só se reúne às quintas-feiras. Todos os conselheiros haviam viajado para seus condados-sede.
A única coisa que pôde fazer foi enviar um manual, aconselhando os defensores a seguirem-no com exatidão. Como a situação era de emergência, podiam pular alguns capítulos e ir direto ao 8º, “os direitos e obrigações do inimigo”.
À noitinha, chegou à capital do reino um estropiado emissário, único sobrevivente do ataque. Antes de cair mortinho, emitiu verbalmente a seguinte mensagem: se me permitem, excelências, acho que o inimigo nunca leu nosso manual!