O jogo mais bem jogado pelos melhores jogadores do mundo - Escrito por Alessandro Cassarrato, para o Zeca Quinha Nius
O jogo de futebol entre os times Mordepescoço e Covardeéocapeta começou às dez para às dez, dez minutos antes das dez, o que corresponde a seiscentos segundos antes das dez.
Todos os torcedores que foram ao estádio assistiram, de dentro do estádio, ao jogo que assistiram, e os que não foram ao estádio e, mesmo assim, assistiram ao jogo, assistiram ao jogo de outros lugares que não o interior do estádio. Nas arquibancadas, os torcedores; no campo de futebol, os jogadores, o árbitro, os bandeirinhas; e, nos dois bancos de reserva, os jogadores reservas e o técnico e o massagista, e o auxiliar-técnico, e o auxiliar técnico do auxiliar técnico. Quarenta e cinco minutos após o início do primeiro tempo, o primeiro tempo encerrou-se, e quinze minutos depois começou o segundo tempo, que se encerrou depois de transcorridos quarenta e cinco minutos. Durante o jogo, os jogadores chutaram a bola, e a cabecearam, e a joelharam, e a cotovelaram, e a barrigaram, e a tornozelaram, e a manusearam.
Nove coisas do jogo chamaram a atenção dos torcedores:
1, o gramado, que era verde;
2, o árbitro, que correu e se posicionou bem, e não atrapalhou os jogadores;
3, o técnico, que não berrou feito doido;
4, o auxiliar-técnico, que auxiliou o técnico;
5, o auxiliar-técnico do auxiliar-técnico, que auxiliou o auxiliar-técnico;
6, os jogadores reservas, que substituíram os jogadores titulares, que, por sua vez, foram por eles substituídos;
7, os bandeirinhas, que correram sempre ao lado de fora do campo de futebol;
8, as redes dos gols, que impediram a bola, quando ela entrou no gol, de cair longe do gol; e, por último, mas não o menos importante,
9, as linhas bancas que marcam as marcas que limitam o campo de futebol são brancas.
Durante o jogo, choveu água, e muita água, água transparente, pingos e mais pingos, todos eles pingando do céu onde havia muitas nuvens. A chuva caiu, mas caiu com tanta força, que parecia que o chão ia desabar. Todavia, a chuva não impediu que os jogadores jogassem futebol, e chutassem a bola, que era redonda, diga-se de passagem.
O jogo foi espetacular. O melhor jogador do jogo foi o camisa dez do Mordepescoço, Joaquim Dentedessabre, que se destacou porque, além de marcar quatro gols, mordeu o pescoço de três jogadores do Covardeéocapeta; e o melhor jogador deste time foi o camisa sete, Marcantônio Derrubaposte, um grandalhão de dois metros da cabeça aos pés - considerando-se o chão como a base -, que trombou nos onze jogadores do Mordepescoço, e no árbitro, e nos bandeirinhas, e nos gandulas, e nos jogadores reservas, e nos fotógrafos, derrubando todos eles, e esmagando sete. Foi um espetáculo de doer.
O placar, quando, aos sete minutos do primeiro tempo, Ronaldo Pançadepanda, camisa nove do Covardeéocapeta, marcou um gol, com uma cabeçada com a cabeça na bola, e a bola passou entre as mãos de Rogério Seguraquiabo, e acertou a rede pela parte de dentro, marcou Mordepescoço 0 x 1 Covardeéocapeta; e aos vinte e dois minutos, quando Edson Calcanhardeaquiles, com lance genial, marcou um gol, chutando a bola de fora da grande área, com força, muita força, mais força, até, do que a necessária para a bola ir de onde ele a chutou até o gol, em cuja rede ela parou, o placar marcou Mordepescoço 1 x 1 Covardeéocapeta. Depois disso, só deu o Mordepescoço.
Joaquim Dentedessabre, aos vinte e sete minutos, marcou um gol; e aos trinte e três, mais um; e aos quarenta e quatro, mais um; e mais um ele marcou nos acréscimos, pouco antes de o árbitro assoprar o apito. E o segundo tempo não foi diferente: Só deu o Mordepescoço. E o placar final foi Mordepescoço 7 x 1 Covardeéocapeta. Um jogo para entrar para a história, e para nunca ser esquecido, mas será... pelos jogadores do Covardeéocapeta. Infelizmente, eles não abaixarão a crista.