Uma ponte que cai - Escrito por Joaquim Beltrano da Silva Fulano Cicrano de Souza, para o Zeca Quinha Nius
Muitos fatos aconteceram, neste país, nos dias em que eles aconteceram. Diante da quantidade imensurável de fatos que se sucederam em nosso querido país, tivemos de laboriar, diuturnamente, em três turnos, desde a manhã até a noite, para redigirmos um artigo no qual expressássemos, apenas, e unicamente, o que é do interesse dos brasileiros interessados nos acontecimentos que acontecem, sem que muitos brasileiros saibam que eles aconteceram, e deles tomam conhecimento com a leitura do Zeca Quinha Nius, cientes do valor do nosso trabalho. Nós do Zeca Quinha Nius, corresponderemos ao que de nós os leitores esperam, e corresponder-nos-emos uns com os outros, e com os leitores do nosso hebdomadário digital, correspondendo-nos por meio de correspondências, que nos permitirão corresponder-nos com os leitores que vivem no Brasil, e em outro país, e que apreciam este hebdomadário digital que lhes chega às mãos. Ofereceremos relatos de fatos importantes selecionados por jornalistas profissionais, todos com diploma universitário. Nos relatos, que são significativos e relevantes, que publicamos, neste hebdomadário digital, são revelados aspectos intrínsecos a este pais, às suas peculiaridades, que lhe dão a aparência única entre todos os países existentes no orbe terrestre e em outros orbes, desde os mais próximos deste orbe, que tanto maltratamos, aos mais distantes, muito mais distantes, orbes que nossos olhos não podem ver, e tampouco podem vê-los os mais potentes telescópios construídos pelos seres humanos, que promovem o aquecimento global e consomem os recursos naturais deste orbe generoso, que no-los fornece generosa e amavelmente sem pedir-nos em troca nada além de respeito; os seres humanos, no entanto, ingratos, retribuem-lhe com desprezo, ódio, desdém e maus-tratos. Encerro este prólogo, e relato, de todos os eventos sucedidos, que se sucederam, neste pais, que tanto amamos, os mais relevantes e significativos.
Foi há três dias, na cidade de Pindamonhangaba do Oeste, localizada em um local desconhecido do Brasil, que se sucedeu o fato que lá se sucedeu e em nenhum outro lugar. Não eram seis horas da manhã quando Marcolino Joaquim e Manuel Mocorongo ao caminharem por cima da ponte ouviram um estalo; e ao primeiro estalo, seguiu-se outro estalo; e cinco segundos depois de ouvirem este segundo estalo, mais intenso do que o primeiro, os senhores Marcolino e Mocorongo ouviram outro estalo, que foi o terceiro estalo que ouviram; estalo, este, que foi seguido por um outro estalo, que foi o quarto estalo, que, por sua vez, precedeu o quinto estalo, que antecedeu o sexto estalo. Perceberam Joaquim e Manuel que o estalo que sucedia ao estalo que o antecedia era sempre mais forte e que de estalo em estalo, mais fortes eram os estalos. Marcolino e Mocorongo, ouvindo-os, concluíram que a ponte iria ruir. Dito e feito. A ponte ruiu, carregando para baixo os azarados, infortunados, senhores Joaquim e Manuel, que caíram no rio, afundaram-se, e morreram afogados. Os dois cadáveres, mortos e sem vida, os encontraram três pescadores, João das Bananeiras de Ponta-Cabeça, Pedro Peito de Pombo e Bartolomeu do Pó Líquido. Das águas do rio, eles retiraram os defuntos cadavéricos, e os carregaram ao necrotério municipal, na ocasião cheio de cadáveres, todos mortos, eviscerados alguns, sem cabeça outros. E identificados os donos dos cadáveres mortos, que eram os próprios defuntos, a identidade de Marcolino Joaquim e Manuel Mocorongo se fizeram conhecer. E souberam todos os que tomaram conhecimento do caso que um deles era lavrador e o outro lenhador. Naquele mesmo dia, especialistas em construção foram convocados à pequena cidade de Pindamonhangaba do Oeste, pacata e acolhedora, para encontrar as causas do desabamento da ponte. Mal eles começaram o estudo, o prefeito pronunciou-se: “A ponte desabou por uma razão óbvia, que esta à vista de todos; e todos podemos ver, não com os olhos da cara, mas com os olhos da razão: a força da gravidade atraiu a ponte para baixo, pois ela, a força da gravidade, atrai para o centro da Terra tudo o que há, e a ponte é uma ponte que há; aliás, ela é uma ponte que havia; agora, no entanto, no leito do rio ela de nada nos serve; então, por que nos preocupar com ela, por que gastarmos tempo e dinheiro público com ela? Ela ruiu porque tinha de ruir. Foi uma fatalidade. Se a força da gravidade, em vez de atrair para o centro da Terra tudo o que há (e a ponte que havia e agora não há mais, não sendo, portanto, agora, mais uma ponte, continua a ser puxada, pela força da gravidade, para o centro da Terra), repelisse tudo o que há, afastando do seu centro tudo o que há, a ponte não ruiria. E digo mais: a culpa, meus senhores e minhas senhoras pindaoestianas, é dos britânicos. Foram aqueles malditos saxões que inventaram a tal da força da gravidade. E agora que todas as pontes estão a ruir e a desabar, e ruidosamente, temos de exigir da Inglaterra e daquela rainha, aquela baranga colonialista, aquela mocréia imperialista, ressarcimento pelo prejuízo que tivemos.” Encerrada a explicação, aplaudiram-lo, calorosamente, os técnicos em engenharia, que no dia seguinte regressaram às suas cidades. E o caso encerrou-se. E Pindamonhangaba do Oeste retomou a sua rotina rotineira.