Eufemismo, ou é o feminismo...?
O velho pároco já caminhava para a nona década de sua existência, e para aplainar seu caminho para o céu, convenceu-se de restringir pensamentos, palavras e obras que pudessem eventualmente desagradar o Criador. Nesse vasto contexto, trabalhou diuturnamente no confessionário para persuadir individualmente as fidelíssimas fiéis de que não mais se empregaria a palavra traição e sim, uma expressão mais suave que era simples e de fácil entendimento que era ..."cair no passeio"...
E assim se fez. A penitência continuou sendo ministrada em conformidade, e tudo ia bem caminhando para melhor.
Entretanto, em razão de enfermidade, o benigno padre teve que se afastar da cidade de forma um tanto imprevisível e não lhe foi possível passar todas as recomendações para o substituto eventual, um jovem e vigoroso sacerdote holandês, apaixonado pelo Brasil e pelas coisas do país que o acolhera.
Após a primeira rodada de confissões, que era véspera de uma consagrada primeira sexta-feira de mês, onde absolvera com uma naturalidade espantosa as santas mulheres que achavam pecaminosa uma queda em passeio, nosso flamengo missionário foi à Prefeitura para
tirar a limpo o que lhe parecia colossal desleixo com a coisa pública.
E após relatar o fato ao Senhor Alcaide, que o recebeu com sua equipe de Governo e, de puro deboche, riram-se espalhafatosamente,, ao padre apenas restou uma observação judiciosa, ao se despedir:
- Senhorr Prrefeito eu nada mais tenha a dicer, mas como bom católico me cumprre assinalarr que a sua prropria Senhorra só nessa semana já caiu quatrrro veces no passeio...