Em cima do telhado

Primeiro ela passou rapidinho, depois foi ele, olhou pra mim, deu um tempinho e seguiu logo atrás. Fingi que não vi, não tinha nada a ver com aquilo, não era da minha natureza. Não demorou muito, comecei a ouvir a conversa, não sei se ele pensaram que não dava pra ouvir, mas a verdade é que ouvi. Começaram baixinho, logo o tom da conversa aumentou:

--- Vai pagar a pensão!--- Disse ela.

Ele gritou:

--- Não!

Aquilo estava ficando estranho, as vozes esguiçadas só pioravam. Ela não abria mão da pensão, dava para perceber, e continuava a gritar um com o outro:

---Pensãão!

---Nãão!

---Vaai!!

---Nãão!

---Vaai!

---Nãão.

Pensei comigo, isso não vai acabar bem. Realmente, não acabou bem. Depois de um tempo eu a vi atravessando a rua com dois bruguelos correndo atrás e gritando:

--- Mãe! Mãe!

O pai havia sumido e ela que ficou com as crias.

Mas , vamos combinar, ô bicho esquisito é gato acasalando. E ainda bagunçaram o meu telhado.