Apertando os ponteiros...?
Eram aqueles anos sessenta, ainda no começo, em que a posse de um objeto de valor, além de cobiçada, distinguia os homens. E esse ambiente era bem conhecido na Fábrica de Tecidos de Pitangui, que empregava centenas de operários, uma boa parte deles vinda do meio rural, onde a educação pública era assaz limitada.
E foi nesse batido que Ponciano, do povoado do Rio do Peixe conheceu e formou amizade com o Magela, do Sacramento. Ambos jovens, empolgados com o trabalho que lhes garantia o salário certo a cada mês, ainda que atrasasse de vez em quando, iam-se sentindo empoderados e até já tinham planos de constituir família. De leitura e de escrita eram pouco mais do que iletrados, por força das circunstâncias e por falta de esforço também.
Um dia, ao voltar da capital mineira, onde fora consultar pelo Instituto, o Ponciano voltou ostentando um cebolão dourado no braço esquerdo, Mondaine de 21 rubis... Era um relógio de pulso, seu sonho de desde garoto...
Magela que ainda não tinha um daquele, resolveu fazer uma caçoada com o amigo, na frente de outros colegas de trabalho...:
- Rilugim novo, parcêro...Quantas hora aí?
Sentindo-se desafiado, Ponciano, engoliu seco, mas achou uma saída, estendendo o mostrador ao Magela:
- Óia aí, cê né bobo, né...?
Magela não se deu por vencido:
- Fica bobo aí...