FLAMENGO, MEU DENGO.

Assim como minhas férias chegaram ao fim, também findou o Campeonato Brasileiro de 2005. Para tristeza e decepção da torcida arco-íris, os jogadores do meu Flamengo resolveram honrar o Manto Sagrado rubro-negro, afastando o clube da tão famigerada segunda divisão.

Domingo 5/12, última rodada e eu, depois de almoçar, meio sonolento, ouço uma barulheira vinda debaixo do prédio onde moro. Era a minha vizinha Dona Mais ou Menos (não é feia e nem bonita é Mais ou Menos), comandando uma turma de seus filhos, netos, bisnetos, tataranetos para irem assistir ao último jogo do Flamengo em casa de seus pais.

Vestia uma camisa autografada por aquele ataque maravilhoso do primeiro Tri Campeonato Carioca de 43-44-45, composto por Valido, Zizinho, Pirilo, Perácio e Vevé, empunhando uma pequena bandeira em preto e vermelho, dada por seu velho amigo Jaime de Carvalho, chefe da extinta torcida Charanga, parecendo um cacique Comanche, comandando seus bravos quando saíam para lutar contra os caras pálidas no velho oeste americano, lá ia minha vizinha à frente de sua turma.

Fico contemplando o vigor daquela senhora em prol das cores flamengas. Ela é do tempo em que a bola era chamada de pelota, goleiro de arqueiro ou guarda-metas, os times tinham uma certa arrumação, havia os laterais direito e esquerdo, o beque central e o quarto zagueiro, o meio de campo era composto pelo médio volante e o meia armador e lá na frente os pontas direita e esquerda, o centro-avante ou comandante de ataque e o meia esquerda.

Tempo dos cronistas Oduwaldo Cozzi, Doalcei Bueno de Camargo, Jorge Curi e do comentarista Mário Vianna (com dois enes).Qualquer garoto de minha época (anos 60), sabia o nome do ponta direita do Flamengo (Joel), Botafogo (Garrincha), Vasco (Sabará), o ponta esquerda do Fluminense (Escurinho), o goleiro do América (Pompéia) e por aí vai.

Confesso que faz muito tempo que não vou mais aos estádios torcer pelo time da Gávea. Época na qual as pessoas iam aos estádios apenas para torcer pelas cores de seus clubes, principalmente nos domingos ensolarados e não levavam armas de fogo, bombas ou foices. Levavam apenas alegria. Adormeci...Repentinamente, acordo com nova barulheira e corri para a janela, ainda a tempo de ver a minha vizinha

gritando, meio rouca, XÔ, 2 Divisão!!! MENGÔÔÔ!!! MENGÔÔÔ!!! Pude notar estampado em seu rosto, um sorriso maravilhoso parecendo aquelas antigas mocinhas quando iam ao primeiro baile.

Chegando em seu apartamento, ela colocou em sua velha vitrola, uma velha música: Flamengo, Flamengo,Tua Glória é Lutar!!!Flamengo, Flamengo,Campeão de Terra e Mar!!!

Lá pela milésima vez, apesar de ser um flamenguista fervoroso, torcia para que tudo terminasse. Então, logo pude ouvi-la gritando: “Vou parar para fazer um lanche”. E desligou. Meus ouvidos agradeceram.

Assim é o Flamengo. Faz as pessoas sentirem-se felizes, mesmo não ganhando nenhum título. Basta vencer e pronto.

O Pássaro de Fogo
Enviado por O Pássaro de Fogo em 12/03/2020
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