MULHERES

Ronaldo José de Almeida

Emiliano saiu da loja bastante satisfeito. Trazia consigo uma bonita sacola onde levava o terno de linho, riscado. Esperava fazer bonito no casamento do filho único, Genebaldo.

O filho formado em Medicina iria casar-se com Cotinha e os pais faziam muito gosto nesta união, por ser uma moça de boa família.

A cerimônia transcorreu em grande estilo, tudo perfeito, ao término todos foram para o aconchegante clube de campo, onde uma vasta mesa de iguarias preparada com esmero por Araci, a mãe da noiva, esperava os familiares e demais convidados.

Os noivos circularam eufóricos entre os convidados e após algum tempo saíram à francesa; o carro do noivo estava estacionado á porta do clube pronto para á viagem rumo a capital.

Com o findar da recepção, Emiliano e Jovina, demonstrando cansaço, sentaram-se no banco da pracinha central da cidade e emocionados conversavam:

- Emiliano, meu velho, agora ficamos sozinhos, Genebaldo e Cotinha irão formar sua família, e nem sabemos mais quando o veremos.

- Pois é Jovina, como o tempo passou rápido, nosso menino já é médico, casou-se, e nem mesmo vimos o tempo passar - falou emocionado Emiliano.

- Fico pensando se nosso filho será feliz. O que você acha, Emiliano?

- Hoje em dia Jovina, é muito difícil fazer previsão de qualquer espécie, o mundo mudou muito, os valores hoje são outros. Quem pode garantir uma vida em comum por mais de 30 anos?

- É mesmo Emiliano. Nós estamos casados há 35 anos e somos muito felizes, não é?

- Claro! Claro, muito felizes.

- Emiliano seja bem sincero, você já me traiu alguma vez? Pode dizer, pois já faz tanto tempo - perguntou Jovina.

- Você pediu sinceridade, então vou lhe falar. Lembra-se da Gertrudes? Aquela morena! Nossa vizinha, que arrumava a casa com o rádio ligado no último volume. Lembra-se?

- Logo que nos casamos? Sim, lembro muito bem daquela sirigaita, como eu poderia esquecer uma desfrutável daquela?

- Pois é! Quando você viajou, foi passar uns dias com os seus pais, eu estava sossegado no meu canto quando ela bateu á porta lá de casa, dizendo que o gás tinha acabado e pedindo para eu trocar o botijão para ela.

- E você muito assanhado foi. Não é?

- Para você vê como eu sou bobo. Fui e caí em tentação. Não deu outra, grudei a morena e o resto você imagina. Mas deixa isso para, tem tanto tempo, mais de 30 anos.

- Mas só agora estou sabendo, seu descarado.

Jovina desferiu um tapa no rosto de Emiliano e em seguida deu-lhe um dentada na orelha, quase a decepando. Emiliano teve que ser submetido à cirurgia para não perder a concha auditiva.

Indagada sobre o gesto extremo, Jovina bastante ponderada afirmou:

- Tudo bem que tenha me traído, e o tempo já tenha passado. Mas confessar, jamais! Homem que é homem, morre negando, mas não confessa.

RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA
Enviado por RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA em 10/10/2007
Reeditado em 18/12/2007
Código do texto: T687985
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