O Ladrão Analógico Ultrapassado

“Ombrinho” era o apelido. Assim se chamava porque ombreava com a vítima antes de “dar o bote”.

Quando preso, foi entrevistado por um jornal esquerdista.

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REPÓRTER – “Por que você se entregou ao sistema opressor e pediu para ser preso?”

OMBRINHO – “Tive desgosto porque, depois de quase quarenta anos de carreira, criei ódio do mundo fora da cadeia.”

REPÓRTER – “Mas, qual exatamente a razão desse ódio?”

OMBRINHO – “Tenho ódio da tecnologia. Hoje em dia a polícia está bem equipada e rastreia a gente em que buraco for.”

REPÓRTER – “Mas hoje tudo é digital, inclusive para a sua profissão.”

OMBRINHO – “Não fale nessa palavra.”

REPÓRTER – “Qual palavra?”

OMBRINHO– “Digital. Odeio isso, desde que se referia somente ao fichamento dos dedos com tinta de carimbo. Depois veio a tal tecnologia digital. Celular dá trabalho para lucrar, porque quando a gente vai repassar já está ultrapassado e o preço cai na cotação.”

REPÓRTER – “Você não se atualizou? Você nunca ouviu falar de ‘hackers’?”

OMBRINHO – “Odeio esses daí também, porque isso é concorrência desleal. Eu nunca tive quem me treinasse. Classe desunida, essa minha. Quem dera! Mas eu não conheço nenhum jornalista, para me apresentar a essa turma. Mas, peraí! O senhor é jornalista! O senhor por acaso não poderia me indicar uns contatos, desses que tem por aí, uns gringos talvez? Eu arranho um pouco o inglês!”

REPÓRTER – “ Guarda! Terminei a entrevista!”