O  ###
Quando estou de bom-humor, eu o acho engraçado; quando estou de mau-humor, eu o tacho de desgraça.
Falo do ###. Falo daqueles quando desaforados – sim, os verdadeiros e piores ### são aqueles que desaforados sem noção. Eles encarnam o desafio do “terão que nos engolir, assim, ### e desqualificados”; melhor, algo como “Eu sou a mosca que pousou na sua sopa; eu sou a mosca e estou aqui pra lhe abusar”, tão bem cantado por Raul Seixas.
O ### é, antes de tudo, feio, de uma feiura que é um debate teleológico dentro da Estética, um desafio para Darwin (esse fenômeno estaria extinto, se a seleção natural fosse mais categórica). Seja no modo de falar, de escolher as suas preferências musicais ou de exibir os cabelos. Ah, os cabelos! Adepto da noção de que nada lhe resta de melhor a exibir a não ser reedições corporais, é plenamente pareado com os modismos, mormente com seus pares que galgaram a condição de “novos ricos”* e sejam expressão unânime na mídia, na consonância maior do “pós-moderno”; digamos, “o que cola e o que rola”. 
Passei por ele na praça central; cada um na sua calçada, claro! Ele só não era mais feio porque pertencente a um universo de apenas três dimensões. Porque, olhado “de cima a baixo”, a certa altura ele acabava e o chão começava. Porque a Feiura teria tido mais gente para privilegiar.
Falo de uma fealdade essencial, inata, agressiva, corrosiva, determinada por genes malsãos. Ele seria assim por toda a vida, é certo! Mas ele resolveu piorar! É isso, mesmo: piorar dentro do impossível! Valeu-se do muito que lhe restara de suas fabulosas aulas de Inestética, entrou em um estúdio de “tatoo” e escolheu as piores ilustrações, aquelas de inspiração satânica, que lhe foram agregadas em sofridas sessões cutâneas. Besuntou-se; sentiu-se “fechado”, como obra conclusa da Criação, o “cara” da cidade, e hoje exibe a obra magna por aí, ornada com camiseta regata, bermuda, havaianas. Mas, do alto de meu soslaio e de minha maledicência, ele concebera a própria “Poluição Visual Ambulante”. Nada mais inconsistente e sem causalidade justificável. Ah, o pobre coitado! 
 
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(*) = 6. Você confunde ricos de verdade com novos ricos.
Novos ricos são ex-classe média com dinheiro. Deslumbrados, têm o hábito de postar regularmente nas redes sociais fotos de pratos de comida, do carro novo ou de destinos de turismo de gosto duvidoso. Ricos de verdade são discretos, preferem a sobriedade à ostentação. Conhecem o jogo do dinheiro, suas armadilhas e ilusões. (Sim, em ambos os casos, há exceções).
André Camargo, in: “17 Sinais de que Você Nunca vai ter Dinheiro na sua Vida”, https://adrenaline.uol.com.br/forum/threads/17-sinais-de-que-voce-nunca-vai-ter-dinheiro-na-sua-vida.620995/
OBS: O blog adverte que a partir de 27/02/20 terá novo endereço: https://adrenaline.com.br
A despeito dessa referência, insisto na condição não econômico-financeira do “###” aqui aludido – ela é, apenas e infelizmente, cultural.
 
###: Anônimo, em nome do politicamente correto.