SANTO DE CASA...
Esses dias, alguém comentou com meu filho sobre um texto de minha autoria. Ele ficou surpreso: Quê? Meu pai escreve?
Na certa, pensou: como é que aquele cara que vive reclamando se as luzes ficam acesas, a porta destrancada, o microondas ligado, pode fazer alguma coisa de bom? Santo de casa, sabe como é...
Fico imaginando como seriam vistas pelos filhos algumas personalidades, desgastadas pelo contato cotidiano. Por exemplo, o filho de Mozart, falando para o amiguinho:
– Vamos brincar lá fora, não agüento mais esse som careta do velho.
O filho do ator Lawrence Olivier, vendo um filme do pai na televisão:
– Que chatice! Muda de canal. Vê se tem alguma coisa do Rambo.
O filho de Pelé: tchau, mãe. Vou na casa do Toninho. O pai dele vai ensinar a gente a dar um drible maneiro.
Na casa do Pitangui: pai, tem um restinho de silicone pra gente brincar de geleca? A filha adolescente do Pavarotti, ao telefone com o namoradinho:
– Fala mais alto, Beppi, que o velho está se esgoelando no banheiro!
O garoto mais novo do chefe da Polícia:
– Pai, empresta um pouco o colete à prova de balas? Estamos brincando de mocinho e bandido. Vou ser o mocinho.
– Ótimo, filho! Na certa você será o policial honesto, incorrupto...
– Não diz besteira, velho! Vou ser o Escadinha.
O filho do físico Oppenheimer volta chateado da escola:
– A professora, dona Hiroxima, deu zero naquelas continhas de matemática que o senhor me ajudou a fazer. Desse jeito vou acabar levando bomba!
E até o presidente acabou entrando nessa:
– Mulher cadê a faixa presidencial?
– Ah! O garoto está com gripe e pegou pra assoar o nariz.
Imaginem se o garoto estivesse com diarréia!
É isso, leitor. Sucesso, mesmo, é os filhos lerem os seus textos, preferirem suas músicas, adorarem seus projetos, acatarem suas opiniões. Até Maomé foi ser profeta longe de sua terra!