O Pescador SAPECADOR
Toinho tinha protestado contra as manchas de óleo e era um pescador muito hábil.
Todos os peixes que pescou (desde menino) eram realmente do tamanho que descrevia nas narrativas com amigos e conhecidos.
Toinho não costumava mentir, mas um belo dia encontrou o grande amor de sua vida, chamada Tina, também pescadora.
Foi então que o Toinho começou a dar umas sapecadas nas histórias antigas que todo mundo já conhecia.
As narrativas da namorada pescadora Tina eram bem mais exageradas do que aquelas que geraram a fama de que todo pescador é um tipo de gente que costuma “aumentar” o tamanho do peixe.
Levado a frequentar as rodas de pescadores mais abusados no exagero, Toinho ficou entendendo o real sentido do verbo “sapecar”. De fato, desde criança acostumara-se a escutar dos adultos que “tal menino era muito sapeca”. Mas, nessa roda nova de amigos pescadores, “sapecar” significava “dar um trato” na narrativa para que ela parecesse bem mais prodigiosa. E um “prodígio” sempre significava aumentar o tamanho da façanha acontecida em água salgada ou doce.
Toinho foi aos poucos se identificando com aquela frase do samba-canção que diz: “estão querendo tirar o meu tempo de bamba”. De fato, era intimidadora a quantidade de sapecadas que as narrativas da namorada e dos colegas continham.
Pensando em reagir, Toinho achou uma brecha nas conversas para melhor se situar no “ranking”, antes que sua imagem se apequenasse ainda mais nas conversas daquela espécie de clube do Pinóquio. A brecha que ele encontrou foi pelo fato de que nem mesmo um sequer dos colegas (e muito menos a namorada) tinha narrado alguma façanha na pesca de baleias. Foi então que num belo momento propício para reação ele lançou o desafio:
- Certo pessoal, eu não queria falar nesse assunto por causa da lei que proíbe. Mas, quem aí já pescou baleia e conseguiu fisgar um bicho desses?
Para desapontamento do Toinho, cada um naquela roda levantou uma das mãos.
Desnorteado, Toinho conseguiu em alguns segundos pensar numa saída e pediu que cada um contasse como havia pescado sua própria baleia... embora tendo sido obrigado a soltá-la de volta ao mar para respeitar a lei e por isso não tinha como provar exibindo o peixão para quem quisesse ver.
Ao final das narrativas dos colegas e da namorada, Toinho nem quis exigir que cada um ali tivesse ao menos uma foto como prova da façanha. Foi então que ele, com os olhos brilhantes pela vantagem do momento, revelou:
- Pois eu sou o único aqui que tem uma prova material de que a baleia que pesquei existiu de fato.
Todos ao redor escancaram as bocas, com medo de que Toinho tivesse pensado em algo que ninguém havia cogitado.
Então Toinho foi fulminante e destroçou as sapecadas dos pescadores ali presentes, pois, pela regra que valia no código dos exageros, quem pensasse primeiro na ideia não poderia ser plagiado depois que a chance tinha sido dada.
Disse o Toinho:
- Agora vocês vão ficar sabendo, de primeira mão, o porquê de nem mesmo a Marinha ter descoberto ainda que essas manchas de óleo nas praias foram da baleia que pesquei e soltei. Ela tinha bebido tanto óleo vazado de um navio, que depois do buraco que fiz nela a coitada saiu vazando petróleo por tudo quanto é praia durante as madrugadas quando ninguém podia notar a aproximação dela.
Você, leitor, duvida que o Toinho ganhou a coroa e ainda conquistou o amor da coroa?
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Moral da história (estória) ------------- A tragédia do derramamento de óleo... cada um usa como quer.
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Da série: Contos de Terror da Greta