A VINGANÇA DO PAI NATAL
“Invejas Natalícias”
O Pai Natal quis ir a Belém
Falar ao Marcelo, em paz e bem,
E para tal pediu uma audiência
Mas não foi recebido, paciência!
(À mesma hora – viu nos livretos –
Estavam de visita os Caretos
Que vinham lá de fora vaidosos
Condecorados pelos poderosos.)
- Bem vistas as coisas, como é?
Eu que nunca lá pus o meu pé
Devia, até por questão d´ idade,
Ser respeitada a minha prioridade…
P´ lo sim, p´ lo não, nada de chatices
O que mais há por cá são burrices
E eu, como prezo minha saúde,
Aposto muito mais na virtude.
Eu… sou cioso do meu património
E odeio que me tratem de campónio.
Esses que lá estão são meros saloios
E, claro, já bufam por apoios…
Mas, deixá-los andá-los. Logo se fartam
E, quando menos esperarem, os descartam
E eu, pois então, fartar-me-ei de rir
E, sempre que posso, adoro curtir.
Andaram lá por terras do Colombo
Saltaram, dançaram, tocando bombo
E os lorpas, não percebendo o chinfrim
A tudo, disseram-lhes logo que sim.
Os que lá moram são incompetentes
E, além disso, fraquinhos das mentes
Pois, a dita distinção é só tanga…
Mas eu, por mim, tenho uma na manga.
No meu Natal, digo-o alto e repito –
Eu vou-lhes aplicar um manguito:
Se me pedirem prendas, ou favor,
Faço-lhes ouvidos de mercador.
E o Marcelo que se ponha a pau
Deixo-lhe só batatas e bacalhau
Que, parece, é o que ele mais gosta.
Pra sobremesa, azedumes do Costa.
Caretos? Coitados, julgam-se alguém
Só por irem ao beija-mão a Belém?
Daqui a pouco… não têm cheta
Nem sequer jeito pra tocar trombeta.
Nos Híperes do seu nome vou dar baixa
Para que os corram a toque de caixa.
Marcelos, Caretos, vou-me a eles taco-a-taco
Pois são, todos, farinha do mesmo saco!
Que se entretenham lá com as selfies
Se se descuidam, corto-lhes as belfas.
Quem muito se´ arma logo perde a graça
E se os cães ladram a caravana passa.
Deixá-los, uns e outros são louvaminhas
E eu, no fundo, tenho-os nas palminhas.
Quem rir no fim, há-de rir muito melhor
Pois, neste meu Reino eu sou um Senhor!
Assim vai o Natal, assim vai o Mundo
Sem bússola e com coração imundo:
Invejas natalícias e fel…
Quando tudo, tudo deveria ser Mel!
Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA