CONVERSA NO BANHEIRO
Estava eu posto em sossego, no banheiro do aeroporto, naquele lugarzinho em que todo mundo é igual e até o rei vai sozinho, quando o vizinho do compartimento ao lado falou de repente:
- Tudo bem aí?
O quê? Será que fiz alguma coisa de errado? Será que não estou me portando bem aqui dentro? Então respondi:
- Tudo bem, vizinho.
- E a família, como vai?
Ué, de onde será que o cara me conhece? Como sabe de minha família?
- Pois é, nem tudo vai bem: a patroa anda meio deprimida, coisa de mulher, percebe? Mas eu é que pago o pato.
- Tens visto aquela morena? – continuou.
- Não. Faz algum tempo que não a vejo mais. Acho que foi embora pra Curitiba. Parece que casou com um corretor de imóveis.
- E aquele teu plano, foi adiante?
- Não, rapaz! Foi tudo por água abaixo. Faltou capital de giro.
Pombas, o cara sabia tudo da minha vida. Na certa agora ia falar daquele dinheiro que...
- E aquele dinheiro que você pegou emprestado do cunhado e nunca mais deu satisfações a ele? Já conseguiu pagar?
- Esse é um assunto meu. Não admito...
- Olha, Fefê...Eu não falei por mal. Eu me preocupo com você, cara.
Já me chamaram de tudo nesta vida, menos de Fefê. Quem esse sujeitinho pensa que é pra ficar me inventando apelidos? Agora ele vai ouvir:
- Olha, meu amigo, não te conheço, não sei quem são tuas negas. Estou aqui sossegado, fazendo o que ninguém pode fazer por mim, e não admito que fique remexendo em meus assuntos particulares. E antes que me esqueça, Fefê é a vovozinha!
- Fefê, tá ouvindo? Olha aqui, Fefê, vou desligar o celular, pois tem um idiota aqui do lado atrapalhando nossa conversa.