TOCA RAUL
Naquela segunda feira paulistana, fazia um sol morno, e o tempo pra variar estava úmido. Era quase horário de almoço e o ônibus estava relativamente vazio. Ele deu o sinal na Avenida do Estado e embora houvessem outros lugares, veio sentar justamente ao meu lado...
Não estava mal vestido, e nem aparentava algum tipo de nervosismo, chegou a mexer no celular algumas vezes e até escutou um áudio.
Num determinado momento notei que ele olhava fixamente para as minhas tatuagens, e antes que eu dissesse algo, ele me perguntou:
- Esse aí no seu braço não é o Raul Seixas ?
Respondi ligeiramente animado:
- É sim, você gosta das músicas dele?
Ele respondeu:
- Conheço poucas, mas adoro relógios e dizendo isso, discretamente levantou a blusa, me mostrou uma arma, me pediu silêncio e deu sinal pra descer...
A porta abriu e enquanto eu via meu relógio sumir pra sempre, ouvi a voz do cobrador que assistia a cena a distância e bem quietinho, se manifestando apenas depois que o meliante já havia sumido entre os transeuntes:
- Ei, motorista ! Pare o ônibus, o passageiro foi assaltado, gritou ! E foi logo me perguntando se eu queria fazer um B.O ou acionar uma viatura, enquanto o ônibus encostava no meio fio.
Respondi que não queria pois já havia perdido o relógio e o humor...
Então, sem insistir muito e já pensando no Virado a Paulista do almoço, ele gritou:
Toca Raul !
E o motorista seguiu viagem...