Pastelada matinal
A padaria onde me abasteço fica colada no prédio onde moro. E mal feitas minhas abluções matinais, sem prece ou pressa, já lá vou pro pão de cada dia, que é bom, diga-se de passagem, e de assagem..
Muito movimento, e as passagens da freguesia em geral são rápidas, apressadas...alguma maior demora, de se sentar nas cadeiras e ver o noticiário matinal da Globo, fica por conta de moradores vizinhos, solitários, ou algum morador de rua que se aventura a enfrentar a hiena da fome e o desdém quase que obsequioso dos circunstantes...
Hoje, inda há pouquinho, pós semi-encher meu saquinho - de papel - e o pesar, pesar maior é a hora de pagar...o caixa, momentaneamente fora de sua posição, por detrás do balcão, faz-me gesto manual e cabeçual de que me atenderá pronto, enquanto alterna mordiscadelas num pastel, e golejos rápidos de seu café, que é a alma afro de seu copo Lagoinha...
Aparentemente insatisfeito com a simplicidade de minha resposta em forma de elevação do polegar, ele vem correndo atender-me, e ainda se peja em explicar tanta correria...
Respondo-lhe, insolene:
- A sorte sua, meu caro, e o meu comprovado receio, é que este teu pastel
nem tem recheio...!
E dada mais uma mordiscada, sem engasgo, no ensejo, ele responde, não esconde:
- É, é de queijo...