CLIENTE- FANTASMA
Estava atendendo os correntistas, na plataforma, quando vi passar um vulto branco. De repente materializou-se na minha frente. Era puro ectoplasma. Dei meu melhor sorriso (que me pareceu uma droga):
- O que o senhor deseja?
- Psiu, fale baixo. Queria fazer uma aplicação.
- Seu nome, por favor?
- Qual deles? Isso é, deixe-me ver: (contou nos dedos) hoje é quarta-feira, não é? ... José da Silva. Pode colocar aí: José da Silva. Veja se não fizeram um depósito. Não ainda? Como são enrolados esses humanos. E eu que saí do sossego de meu mausoléu.
O homem, digo, a figura não identificada, estava branco de cólera. Dirigiu-se a mim, ainda, com sotaque gutural:
- Dê mais uma olhada, rapazzz!
Por via de dúvidas, vasculhei a telinha do micro:
- Aqui só tem uma ordem de pagamento para Maria Xurupita.
- É isso! Sou eu mesmo.
- O senhor?? Vamos ver: o remetente é...
- Chit! Não espalhe...Não é necessário esse detalhe.
Quando o encarei novamente, juro que tinha as feições femininas, o cabelinho curto oleoso. Estava ereto, com as mãos na cintura.
- Senhor José, isto é, Dona Maria, me dê o número de sua conta para efetuar o crédito. Ou a senhora prefere investir no mercado futuro?
- Mercado futuro? E eu sei lá se esse mercado aí tem futuro? Já vi muita coisa nessas minhas vidas, meu jovem. Não se pode ter confiança. Prefiro o mercado passado, que é mais seguro. Falando nisso, veja aí se já creditaram os vencimentos de Espiritino de Almeida, funcionário público.
- Que também é o distinto cliente que tenho em frente.
Eu já estava até rimando as palavras. Acho que era de nervoso. Felizmente, seus vencimentos haviam sido creditados direitinho. Uma soma fabulosa. Despediu-se com um sorriso fúnebre que, no caso, lhe ficava bem:
- Olha, rapazzz, gostei de você. Quando quiser apareça lá em casa, quadra 3, lado oeste, primeira tumba à direita.