Foi Deus ou o diabo?
Uma tarde, encontrei-me com uma senhora que conheço há um bom tempo e conversamos um pouco sobre animais quando ela me falou sobre um senhor que tem vários cachorros e que, um dia, ela passava perto da casa dele e havia vários soltos. Eles estavam latindo muito e tentaram avançar nela que, apavorada, bateu neles com a bolsa. Os cães se afastaram e, ao me contar tal história, ela concluiu:
-Ainda bem que Jesus me protegeu naquela hora. Senão, o que teria acontecido?
Na mesma hora, pensei em um episódio que passei anos atrás: eu estava indo à faculdade e a empregada de uma casa havia se descuidado, deixando escapar um rotweiller e um filhote de husky. O rotweiller, uma fêmea, vinha correndo desesperadamente e, ao me ver, veio bem na minha direção. Ao perceber, fiquei parada que nem uma estátua e baixei a cabeça, sabendo que, se sentisse medo, poderia ser estraçalhada por mordidas. A cadela se arremessou contra mim, batendo a cabeça com toda força contra meu estômago. A empregada gritou para eu não ter medo que era apenas brincadeira do animal. Eu nada disse, mas esperei a cadela se afastar e continuei meu caminho quando a cadela virou a esquina. Hoje, penso que o que me salvou foi não ter demonstrado medo.
Não sei dizer se a senhora realmente foi salva por intervenção divina. O que sei é que não dá para dizermos se algo foi por causa de Deus ou do diabo. Lembro disso principalmente ao pensar em uma festa de Halloween em que eu estava, no meu curso de inglês. Estava escuro e eu não vi uma pessoa que atirou uma garrafa contra mim. Só senti a pancada e o sangue quente escorrendo por minha testa. Levaram-me ao hospital e tive sorte que meu olho não foi atingido. Mais tarde, o pastor da igreja que eu frequentava falou que aquilo ocorrera porque o Halloween é uma festa do demônio e que Jesus me protegera, salvando-me de perder o olho.
Entretanto, podemos fazer uma pergunta: as pessoas não vão à Igreja em nome de Jesus? E os malucos que entram atirando? Já que o que me ocorreu foi porque era uma festa dos diabos, então, não seria para as pessoas que vão às igrejas estarem protegidas do mal? E se Deus intercedeu por mim numa festa consagrada ao demônio, por que não protegeu os que foram louvá-lo em um culto?
Nunca saberei a resposta. Mas penso que a tal senhora não devia dizer que foi Jesus que a protegeu dos cães. Eu mesma não me senti protegida quando tive de lidar com o rotweiller.