TUDO POR UM GOLE...
O sujeito sem um tostão no bolso vagueia pelo bairro vigiando cada boteco que encontra na esperança de encontrar uma boa alma que lhe pague um gole. Tonico já era conhecido por ali, tinha sido bancário, jogava bem futebol, mas, se entregou pra cachaça e até seus parentes o evitavam, perdeu família, andava desgraçado da vida, no fundo do poço
Eis que vê sua esperança surgir junto com uma fina garoa que caia com á noite, na frente da venda do seu Floriano, um franguinho encolhido, trêmulo, com a cabeça em baixo da asinha relutava em manter-se vivo. Tonico não pensou duas vezes, tratou de arrumar uma sacola plástica, acomodou cuidadosamente o bichinho ali e foi concluir o resto de seu projeto.
Ele tava era mesmo de sorte, no primeiro boteco que entrou Rafael um velho conhecido tomava umas e outras.
Então rapaz como é que vai? Pelo visto continua na mesma. Tonico acrescenta melancolicamente: Á ta pior, não arruma serviço bão, mãe doente e enumerou mais uma meia dúzia de problemas que deixa qualquer um na mais profunda depressão. Rafael não suportando, interfere, pede logo uma cachaça que sei que é isso que quer. Não, não, na verdade estou precisando de grana pra comprar uma mistura, limpei o lote da dona Zica e deu-me este frango (mostrando a sacola), quer comprar-me? Cinco reais ele é seu. Já de saída Rafael dá cinco reais ao bebum e leva o bicho pra casa. 1/2 hora após chegar em casa, sai do banho e depara-se com á esposa injuriada na cozinha, que foi bem? Como que foi, ta de sacanagem, pede-me para preparar este frango, quase morto, e me pergunta o que foi? Este bicho esta doente, não percebe? Rafael tentando explicar, mas é que o Tonico... Tonico! Vai dizer que se deixou enganar por aquele bêbado maltrapilho? Vai devolver agora!
Rafael entra batido nos fundos da n° 49 á duas quadras acima de sua rua e encontra Tonico debruçado sobre a mesa, do pequeno quarto.
A garrafa de 51 no chão não restava um gole se quer.
Com a cara enfiada entre os braços, imóvel, depois de ouvir um verdadeiro repertório dos nomes mais feios que possa existir. Rafael finaliza: Ainda tem á cara de pau de dizer que precisava comprar mistura. Tonico ainda quase imóvel aponta com o dedo indicador para uma garrafa de Fernet que estava no outro canto.
É um descarado mesmo, ainda faz piadinha! Porque não me disse que era para isso? Vender-me um frango seco e ainda por cima pestiado!
Ainda quase imóvel Tonico só vira á cabeça em direção á porta e somente com o olho direito aberto, diz com a voz típica de um sujeito embriagado, Ravael: Por certo queria gomprar um chesster com cincão.