TREINADOS PARA IRRITAR



Hoje, tudo se resolve pelo telefone. O pessoal do Telemarketing afirma que não há mais aquele incômodo nem perda de tempo para se realizar uma consulta ou formalizar uma reclamação naquela ou noutra empresa.

Se for usar o Call Center para solicitar a aquisição de um produto de alguma empresa de telefonia, por exemplo, o caminho é curto, agradável e rápido. Os atendentes são solícitos e muito eficientes. Mas, se pretender protocolar alguma reclamação, se tiver a audácia de pedir revisão de alguma cobrança indevida, logo perceberá que o Call Center, de um instante para o outro, se transformará em “Central do Caos”. Melhor preparar o seu coração e rever todo o seu vocabulário de palavrões, porque você precisará de todos!

Exagero! Será?!

Então vejamos. Alguns minutos depois, a ligação misteriosamente cai. Mas o usuário brasileiro é mesmo muito paciente, calmo e persistente. Ele não se deixa abater por pouca coisa. O cidadão respira fundo, espera por mais alguns segundos e retorna à ligação.

A máquina o recebe com uma tremenda “Boa tarde”! “Obrigado por ter ligado! Você poderá conhecer todos os nossos serviços no site www.blablabla.com.br” e continua... “Em caso de extravio de contas, tecle um; onde pagar suas contas, tecle dois; pedido de débito automático, tecle três; aquisição de serviços, tecle quatro... Ou se preferir, a qualquer momento, tecle zero, para falar com um de nossos atendentes”. Persistente do jeito que você é, logo aperta o zero, e escuta o seguinte: “No momento, todos os nossos atendentes estão ocupados; o tempo de espera será superior a cinco minutos”.

― Como é que pode isso?

Enfim, você é um exemplo de tranquilidade, de perseverança e fica ali, com o telefone no ouvido por cinco, seis minutos, de repente ouve: ― “Boa tarde! Com quem eu falo”? Numa mistura de tristeza, alegria e raiva, você diz seu nome. A mocinha do outro lado da linha avisa: ― “Para sua segurança, esta ligação estará sendo gravada. O que deseja, senhor”?

Você expõe sua reclamação para a atendente e ela diz: ― “Para estar lhe atendendo, preciso que me confirme alguns dados”. Pergunta o número da linha, data de pagamento da conta, se já usou telefone no exterior, se já fez mudança de plano. Se responder tudo sem pestanejar, ela gentilmente lhe informará:

― “Um momento, vou estar transferindo o senhor para o setor de cobrança. Aguarde, por favor”.

Mais cinco longos minutos... Mas você é um sujeito perseverante. Agora é, mesmo, uma questão de honra! Você se acalma, respira fundo, conta até mil e alguém finalmente diz: ― “Boa noite! Com quem eu falo?” Educado como só você mesmo, então você responde, repetindo o seu nome pela enésima vez.

― “O senhor pode me confirmar alguns dados?”; ― “Qual o número do seu aparelho”?; ―“Data do seu nascimento”?; ― “O senhor possui (sic) débito automático”? Bem, após toda a burocracia, você respira fundo novamente e imagina... “Agora não tem jeito, finalmente conseguirei”. Explica que deseja que sua conta seja recalculada, pois, como pode averiguar aí no computador, houve uma cobrança indevida.

― “Realmente, o senhor tem razão. Estaremos transferindo o senhor para setor de cálculos”. Aí você perde a linha e reclama bravamente!
“Por aqui não estou podendo ajudá-lo, senhor! Não tenho como providenciar o serviço aguarde, por favor”. Três minutos depois, um novo e horrível “Boa noite”!

Você olha no relógio e percebe que já é quase outra vez, bom dia! Mas, você é um consumidor No Stress e solicita a tal revisão de cálculos. A atendente então, finalmente, pede que aguarde para refazer os cálculos e no meio dessa espera, já quase de madrugada, a ligação novamente cai.

Você é mesmo fantástico! Tranca-se no quarto grita PUTA QUE PARIU! Toma um comprimido tranquilizante e vai para a cama, tentando dormir...

 
Paulo Cesar Coelho
Enviado por Paulo Cesar Coelho em 19/08/2019
Reeditado em 19/08/2019
Código do texto: T6723865
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