A peregrinação de Alfredo Severo

Alfredo Severo era um próspero jovem empresário cheio de ideias e muito apegado ao trabalho. Sua empresa só fazia crescer, ele só fazia enriquecer.

Mas eis que um final de dia, sem aviso, sente uma aguda pontada na planta dos dois pés, um comichão lhe sobe pelas pernas, joelhos e coxas, junta-se na base da coluna, percorre toda a coluna, dá-lhe um arrepio no pescoço e por fim um estalo na cabeça. Pareceu-lhe levar uma pancada no cocoruto.

No início assustado, logo aquela coisa passou, Alfredo esqueceu. Passaram-se mais alguns dias, até que a mesma síndrome repetiu-se. Rápida, só alguns segundos, mas intensa, uma sensação quase alucinante, difícil de suportar. De novo a preocupação logo deu lugar ao esquecimento, o jovem empresário mergulhou nos afazeres que eram sua maior satisfação.

Mas aqueles acessos começaram a repetir-se mais amiúde, tornaram-se insuportáveis. Alfredo procurou um médico, descreveu-lhe o que sentia, o doutor diagnosticou um problema ortopédico nos pés, que iniciava aquela reação em cadeia. Foram meses de tratamento ortopédico, com palmilhas, fisioterapia, medicamentos. Tudo em vão. Alfredo já começava a desesperar-se. Os ataques cada vez mais comuns e intensos.

Aconselhado por um amigo, procurou outro médico. Agora um neurologista. Ele diagnosticou um problema neurológico raro, causado por estresse. Foram outros meses de medicação, redução da jornada de trabalho e psicanálise para compensar o sofrimento com aqueles ataques e a privação do trabalho.

Tudo em vão, os acessos pioravam. Procurou então um especialista em medicina quântica, que diagnosticou um problema originado no cérebro, que refletia no restante do corpo, a começar pela planta do pé. Recomendou a Alfredo que viajasse para a Alemanha, onde médicos especializados e tecnologias superavançadas conseguiriam dar conta de seu problema.

Já quase sem recursos, com seu negócio falido, abatido, Alfredo não hesitou em juntar as últimas economias e partir para a Europa em busca de um salvador tratamento para aqueles acessos que já lhe pareciam um suplício insuportável e imerecido. Ficou por lá alguns meses, tentaram de tudo, nada deu certo. Explicaram então que era o caso de uma nova síndrome ainda não estudada, com causas múltiplas combinadas, também ainda pouco conhecidas.

Com o que lhe restava de recursos, Alfredo voltou ao Brasil. Já não tinha nada, tornou-se morador de rua, que vivia da generosidade de voluntários.

Um dia, casualmente, encontrou um antigo amigo e parceiro de negócios que ao reconhecê-lo naquele estado ficou muito comovido. Levou Alfredo à sua casa, fê-lo tomar um bom banho, alimentou-o e em seguida levou-o a um alfaiate conhecido para fazer-lhe roupas decentes.

No alfaiate, este começou a tomar as medidas de Alfredo. Calça número quarenta e oito, camisa número quatro, cintura noventa centímetros, colarinho trinta e oito centímetros, sapatos quarenta e dois, cueca tamanho grande...

Nesse instante Alfredo interrompeu o alfaiate:

- Quase tudo certo. Mas a cueca não. Cueca eu uso tamanho médio.

Ao que o alfaiate prontamente retruca:

- O senhor não deve usar o tamanho médio, senão poderá sentir uma aguda pontada na planta dos dois pés, um comichão que lhe sobe pelas pernas, joelhos e coxas, junta-se na base da coluna, percorre toda a coluna, dá-lhe um arrepio no pescoço e por fim um estalo na cabeça...

Piada ouvida há muito tempo (mais de 40 anos), de autoria desconhecida.

Autor desconhecido
Enviado por Mário Sérgio de Melo em 12/08/2019
Reeditado em 12/08/2019
Código do texto: T6718620
Classificação de conteúdo: seguro