O ons de Pitangui
Quando a fábrica de tecidos de Pitangui, já mal das pernas, foi absorvida pela Santanense, de Itaúna, há coisa dumas quatro décadas, em meio àquela trepidação de incertezas de seu corpo obreiro, um funcionário de certa responsabilidade gerencial foi chamado a ir a Belo Horizonte para receber determinadas instruções.
Viajar, ainda mais para uma capital, nunca havia sido o seu pendor. Era homem criado no campo, mas ordens eram ordens. E assim, tomou o ônibus, apeou no terminal rodoviário, tomou um táxi e foi parar no Edifício Acaiaca , na Avenida Afonso Pena, onde se encontrava o escritório da firma empregadora. Enquanto ia subindo tanta escadaria, ia se queixando do preço absurdo do táxi, uma corridinha daquela, quase o preço da passagem da viagem...um absurdo....
Após a sessão no escritório, de onde saiu com a impressão de que haviam gostado dele, a recepcionista da empresa, educada, de expediente e tão bonita ainda por cima, acompanhou-o até o elevador, que ainda lhe era uma novidade...
Quando o carro chegou ao térreo todo mundo saiu, menos ele e o ascensorista que o mirou de maneira curiosa...
Não se fazendo de rogado, nosso bom homem perguntou:
- Quanto é a corrida, senhor?
E a resposta, pronta e clara, deixou-o mais relaxado:
- Não custa nada cavalheiro, isso é uma cortesia...
Ao que ele emendou, sem pestanejar:
- Uai, sô, intão me deixa na redoviara, que eu já tô mei apertado pra pegá o ons de Pitangui...