VERSOS GASTRONÔMICOS
Bom dia, amigos.
Na última sexta-feira, publiquei uma paródia a um poema do grande mestre Alphonsus de Guimaraens. Não poderia deixar de prestar a mesma homenagem a seu irmão, o não menos famoso e brilhante Archangelus de Guimaraens.
Assim como procedi daquela feita, publico como texto de humor, e não poesia, em respeito ao talento de ambos.
VERSOS CAMPESINOS
(Archangelus de Guimaraens)
(a Urbano Junqueira)
Os jasmineiros estão floridos
Pelas devesas que vais trilhar;
Invejam a alvura dos teus vestidos...
Os jasmineiros estão floridos,
Sabendo ao certo que vais passar...
A rosa branca que vai pendida
Nos teus cabelos em desalinho,
Vai orgulhosa por ser querida.
A rosa branca que vai pendida,
Lembra uma pomba dentro dum ninho.
Pelos valados, pelas campinas,
Como que as aves dizem: Bons dias!
Vozes tão frescas, tão cristalinas,
Pelos valados, pelas campinas,
Quando passavas, quando tu ias...
No azul sereno, no azul lavado,
- Pombas d'arminho voando no ar -
Teu colo branco foi invejado,
No azul sereno, no azul lavado,
Como a pureza do teu olhar...
Pelas longínquas serras nubladas
- Cortinas alvas desse arrebol -
Como num sonho branco de fadas,
Pelas longínquas serras nubladas,
Vinham beijar-te raios de Sol...
E como um bando de raparigas
As laranjeiras davam-te flores
Para a grinalda - boas amigas.
E como um bando de raparigas
Que já soubessem dos teus amores...
Rosa colhida pelo valado,
Era teu dote para o noivado
Tua alma simples de camponesa.
- Rosa colhida pelo valado,
Tanto perfume, tanta pureza...
Tua vivenda branca e isolada
Seria o pouso dos pobrezinhos...
Como que rindo perto da estrada,
Tua vivenda branca e isolada
Por entre flores, por entre ninhos...
VERSOS GASTRONÔMICOS
(Paródia ao poema Versos Campesinos, de Archangelus de Guimaraens).
Os restaurantes estão lotados
Por onde tu vais caminhar;
Auguram atrair teus sentidos...
Os restaurantes estão lotados,
E tu te precisas alimentar.
A bolsa branca que vai pendida
No teu ombro, direitinho,
Vai recheada, bem provida.
A bolsa branca que vai pendida,
É alvo de cada maitre, pelo caminho.
Pelas calçadas, pelas esquinas,
Como que os cardápios dizem: Bons dias!
Iguarias tão frescas, tão finas.
Pelas calçadas, pelas esquinas,
Quando passavas, tudo tu lias.
No dia lindo e ensolarado,
Cheiro de tempero paira no ar,
Teu apetite foi estimulado.
No dia lindo e ensolarado,
Cada cardápio a te convidar.
Pelas muitas ruas movimentadas
- Cenários belos desse espetáculo –
Carnes cuidadosamente anunciadas.
Pelas muitas ruas movimentadas,
Carneiro, porco e carne de sol.
E como um bando d’aves de rapina
Os anunciantes davam-te reclames
Para atrair-te – oh! Triste sina.
E como um bando d’aves de rapina,
Te atacavam – figuras infames.
Casa escolhida, cliente sentada,
Era a hora tão esperada.
Teu apetite de estivador.
Casa escolhida, cliente sentada,
Tanta fartura, tão bom sabor.
A tua mesa, já reservada,
Era padrão de gosto e beleza...
De tradição muito decantada.
A tua mesa, já reservada,
Tinha uma torta por sobremesa.