SONHO DE UMA NOITE DE VARÃO - A Richard Foxe

Adormeço com a cadela se lambendo na cama junto a mim.

O som de sua língua lembra-me aqueles ventos outonais,

Cujos frutos são as folhas que se arrastam humildemente

Sem propósitos senão o de secar e se decompor ao Sol...

E o sono vem, pouco a pouco, arrastado pelo Canissiroco -

Não sei se o que vislumbro é o Vesúvio ou Morro do Elefante,

Ou se estou na Jordânia ou em Campos do Jordão ...

O latido de minha cadela induz-me ao Latim, este aqui -

"Post coitum animal triste"... mas sou triste antes me acoite !

Não há preâmbulo, tampouco epílogo neste meu capítulo.

Capital é Roma, mas sou adepto de Verona, aguardo Julieta

Mas o sonho era o de uma noite de verão e não devo ver...

Troquei o onírico capuccino pelos lírios do campo e una boa pasta

E a paz reinou em meu sonho, vislumbrei anjos e Monica Vitti

Mas houve coceira - coce-a !... ouço gaitas de fole, Escócia !

Meu coração valente acovardou-se ante o brado do Ipiranga

E meu kilt revelou-se tecido por mangas de miçangas !

Foi rezada a missa do padre arcado e meio caquético,

Cuja catequese fedia a incensos e também a fezes.

Todo Vaticano vaticinava vitória de Lucrécia Borgia até que

Vitória de Santo Antão interferiu na florescência da vitória-régia.

meu espírito vagava pelo espaço (vi a Laika) e foi puxado pelo rabo.

Retornou ao corpo no instante em que a cadela lambeu-me o rosto.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 10/07/2019
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