SONHO DE UMA NOITE DE VARÃO - A Richard Foxe
Adormeço com a cadela se lambendo na cama junto a mim.
O som de sua língua lembra-me aqueles ventos outonais,
Cujos frutos são as folhas que se arrastam humildemente
Sem propósitos senão o de secar e se decompor ao Sol...
E o sono vem, pouco a pouco, arrastado pelo Canissiroco -
Não sei se o que vislumbro é o Vesúvio ou Morro do Elefante,
Ou se estou na Jordânia ou em Campos do Jordão ...
O latido de minha cadela induz-me ao Latim, este aqui -
"Post coitum animal triste"... mas sou triste antes me acoite !
Não há preâmbulo, tampouco epílogo neste meu capítulo.
Capital é Roma, mas sou adepto de Verona, aguardo Julieta
Mas o sonho era o de uma noite de verão e não devo ver...
Troquei o onírico capuccino pelos lírios do campo e una boa pasta
E a paz reinou em meu sonho, vislumbrei anjos e Monica Vitti
Mas houve coceira - coce-a !... ouço gaitas de fole, Escócia !
Meu coração valente acovardou-se ante o brado do Ipiranga
E meu kilt revelou-se tecido por mangas de miçangas !
Foi rezada a missa do padre arcado e meio caquético,
Cuja catequese fedia a incensos e também a fezes.
Todo Vaticano vaticinava vitória de Lucrécia Borgia até que
Vitória de Santo Antão interferiu na florescência da vitória-régia.
meu espírito vagava pelo espaço (vi a Laika) e foi puxado pelo rabo.
Retornou ao corpo no instante em que a cadela lambeu-me o rosto.