Quem já morreu ainda vive...
Aviso necessário: Reuniões espíritas sérias, terreiros de umbanda e candomblé sérios há de montão neste Brasil imenso. As histórias que eu vou contar referem-se a lugares onde se pratica o charlatanismo e, em que, sob a falsa égide do Espiritismo, Umbanda ou Candomblé, se procuram iludir as mentes crédulas, apresentando-se-lhes falsos fenômenos de mediunidade.
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Na cidade de São João, na Baixada Maranhense, havia um cabra valente, chamado Zezico, pistoleiro famoso, já com algumas mortes nas costas. Dizem que um dia, quando Zezico foi confessar-se com o padre, este se horrorizou com a quantidade de gente que ele já tinha despachado:
- Meu filho, você já matou esse tanto de gente?
- Seu padre, eu não mato ninguém. Eu só faço os buracos. Deus é quem mata!
O pistoleiro Zezico gostava muito de andar com o seu compadre Onofre, cabra também valente, mas só para o seu gasto, pois não era de meter-se em confusões. E, embora fossem muito diferentes um do outro, eram grandes amigos, gostavam-se realmente.
Então, um dia, Zezico desentendeu-se com o sargento de polícia, que era o delegado da cidade, recebeu voz de prisão, e em vez de acatá-la, investiu com o cavalo para cima do sargento. Este, livrando-se do ataque, puxou o revólver e atirou em Zezico, matando-o.
Meses mais tarde, Onofre soube que o espírito de Zezico andava aparecendo em certas sessões espíritas, e baixava zangado, virando mesas, quebrando lampiões e desferindo tapas a torto e a direito. Desejoso de voltar a conversar com o amigo, Onofre, em determinada noite, foi assistir à sessão.
A médium que recebia o espírito de Zezico era uma morena forte que, também na vida real, era dada a armar alguns barracos. Assim que Zezico se incorporou, deu forte porrada na mesa, mandou uma série de palavrões, tascou um forte murro no pé do ouvido da médium ao lado, que caiu no chão como uma jaca. Uma enorme confusão estabeleceu-se na sala com todo mundo tratando de se safar das porradas de Zezico, até que Onofre resolveu intervir. Pegou a médium pelo braço e falou:
- Meu compadre Zezico, calma, não...
E nem pôde terminar a frase, porque um forte tapa desferido pelo espírito estalou-lhe em cheio na cara! Aí Onofre virou bicho! Deu um sopapo na mulher, que estatelou-se longe, de pernas abertas. O presidente da sessão gritou para Onofre:
- Meu irmão, não bata na médium!
E Onofre, bufando de raiva:
- Não estou batendo na médium, meu senhor! Estou batendo no Zezico. Esse cabra safado me respeitava quando era vivo e agora, que já morreu, vem me bater na cara? Ah, essa não! Tu me respeita, cabra!
E deu outros petelecos na mulher.
Por coincidência, nunca mais o espírito de Zezico baixou em qualquer sessão espírita de São João.
Como já falei em outro texto, aqui no Maranhão, as entidades que baixam nos terreiros de umbanda ou candomblé são denominadas popularmente de “encantados” ou “caboclos” e os médiuns nos quais eles baixam, de “cavalos”.
Na cidade de São Luís, havia um suposto terreiro de umbanda dirigido por um pai-de-santo famoso, mas que, segundo a polícia, era um perigoso traficante. Aproveitava a pajelança para vender seus trecos: baseados de maconha, pedrinhas de crack, etc.
Como ainda não havia provas para fazer a prisão do meliante, a polícia ficou de atalaia, pronta para dar-lhe um flagrante. E numa noite, três agentes policiais misturaram-se entre os freqüentadores do terreiro e ficaram de longe, observando com atenção os movimentos do pai-de-santo. De repente, viram que ele passava um papelote para um cliente. Ora, então, nesse caso, ele devia estar com a droga escondida nos bolsos. Avançaram rápidos para a tenda onde estava o pai-de-santo para dar o flagrante. Este, avistando-os de longe, logo percebeu que eram policiais. Então, estremeceu-se todo, entrou em convulsões, fingindo receber uma entidade. Queria ganhar tempo, enquanto imaginava um jeito de escapulir pelos fundos... Rodopiou, cantou, bateu maracá, e os policiais olhando...
De repente, impaciente, o mais graduado dos policiais bateu no ombro do “encantado” e falou:
- Seu caboclo, faça o favor de subir, pois vamos levar o seu “cavalo” em cana.
E levaram.
Nos meus tempos de cachaceiro safado, eu era muito guloso por uma pinga. Não me conformava com alguns goles ou em ficar um pouquinho inspirado ou alegre. Não, bebia até me apagar completamente.
Uma noite, perambulei por quase todos os bares da orla marítima de São Luís. Eram duas horas da madrugada e os últimos trocados que eu tinha gastei-os numa corrida de táxi que me levou até a minha casa. Quando o táxi me deixou na calçada, eu fiquei parado, espiando para os lados para ver se encontrava alguma bodega aberta. Era muito conhecido no bairro e, com certeza, me venderiam uns goles fiado. Mas estava tudo fechado. De repente, ouvi batuque de tambores. Lembrei-me de que havia um pseudo terrreiro de umbanda ali no bairro e, pelo visto, estava em pleno funcionamento! E lá, eu sabia, corria uma cachaça esperta.
Fui bater lá. O negócio estava bastante animado. Atrás dos batedores de tambor e encostada a uma imagem do culto afro-brasileiro, havia uma caixa de isopor e logo percebi que era lá que estava “a criança”, pois vários filhos-de-santo, de vez em quando, abaixavam-se ali.
O que eu tinha que fazer era receber um ‘encantado” para entrar no terreiro. Cabra safado, muito dado a presepadas, especialmente quando estava com umas e outras na cabeça, não pensei duas vezes. Dei um “Urrrre!”alto e pulei para o meio do terreiro. O pessoal me olhou espantado, mas o pai-de-santo sorriu satisfeito: um assistente tinha sido tomado por espíritos, o que provava que a vibração espiritual do terreiro era contagiante.
Comecei a dançar, a rodopiar e daí a mais alguns minutos, cheguei lá na caixa de isopor. Havia três garrafas de cachaça, uma das quais já pela metade. Dei uma boa golada e voltei para o meio do terreiro. Mas o meu “encantado” era insaciável. Dançava um pouquinho e corria logo para a garrafa. O pai-de-santo, mulato alto e forte, macaco velho, logo desconfiou de um "encantado” assim com tanta sede ...
Veio cantando, gingando, e falou baixinho no meu ouvido:
- Caboclo, tá vendo aquela cerca ali?
O meu “encantado” olhou. O terreiro era rodeado por uma cerca de varas e o lugar para onde ele apontava era mais escuro e se limitava com a rua.
- Hum... hum... murmurei, já desconfiado que iria me meter numa fria.
O pai-de-santo continuou baixinho:
- Vou botar meia garrafa de cana lá. Sai de fininho, vai lá, pelo lado da rua, vê se ninguém tá te vendo, pega o grogue e vai encher teu rabo de cachaça fora daqui, filho de uma égua, senão arrebento tu e o teu "encantado" de porrada...
- Hum... hum...
Às 4 horas da madrugada, para fechar com chave de ouro uma carraspana porreta, ganhar meia garrafa era tudo que um bêbado sem-vergonha queria..
- Hum... hum...