Pirracema na piracema...?
O Nélson, já setentão, e sofrevivendo dos proventos de operário aposentado, sabia que além dos peixes estarem escassos e mais ariscos, o risco maior era do pescador ser pego pela polícia florestal: era o defeso e ele corria o risco até de ir preso.
Mas o gosto da aventura, e a panela já com gordura o impeliram a um barranco do Rio Pará, um afluente do São Francisco, na altura de Conceição do Pará, a coisa de uma légua de seu, e meu, povoado de São Gonçalo do Brumado. Que "havera" de protegê-lo, de ser picado, ou flagrado.
A cobra não veio, mas a patrulha sim. Apreendido com seus petrechos e o produto de sua colheita proibida, foi botado na traseira do jipe, pra prestar depoimento e ser trancafiado em Pitangui, a uma outra légua do Brumado.
Sem resistência à apreensão, coube ao Nélson o lamuriar a sorte, a princípio pra dentro, mas a cada solavanco do jipe, foi ganhando intensidade, choramingando o infortúnio. Mas com o cuidado de não ofender a autoridade...
Até que, apenas divisado o ponto de ônibus do Brumado, sua voz chorosa clareou:
- Esse povo num tem dó nem piedade nem de morfético...
Foi o estalo, a parada brusca do veículo, derriçando os pneus no cascalhal da estrada e quase caindo na vala do acostamento.
E a ordem imperiosa:
- Baixa aí com essa sua tralha, e é pra já...!!!
Liberto das algemas, com um grande custo, e ainda maior deferência, cabisbaixo, o Nélson segurou o riso. E mesmo sem siso, foi fritar seus peixinhos em paz.
Os agentes da lei foram higienizar o jipe. E a si.