UM PEQUENO ENGANO
UM PEQUENO ENGANO
Depois de uma longa e tenebrosa espera numa sala lotada de portadores das mais variadas doenças reais ou imaginárias, ouvindo queixas de dores e desconfortos, de mau atendimento, de frio, calor, vento, poeira, barulho, e tudo mais que possa incomodar um ser humano, fragilizado, à procura de uma desculpa para sua própria insatisfação, Darcy, ouve, por fim, o seu nome:
DARCY. . . !!!
Dirige-se apressada até a sala de exames, a tosse intermitente, a dor de garganta, o ouvido assobiando, a cabeça pesada, o mundo todo parecendo perder o equilíbrio e balançar a sua frente...
Ouve, então, a voz da enfermeira, como se viesse de muito longe, invadindo, a força, seus ouvidos doloridos, dizendo, com o dedo apontando-lhe uma porta:
- Você vai fazer uma endoscopia.
-... Endo... o que? ...Eu não vou fazer isso, não!
- Como não? Está aqui na sua ficha
- Mas o médico disse que eram um raios-X do tórax.
- Nada disso! Vamos logo que tem muita gente esperando.
- Eu não quero fazer essa coisa. Não foi isso que o médico falou.
- Você está com medo? É um exame muito simples, não dói nada, vamos logo!
- Já disse que não vou. Eu quero fazer os raios-X que o médico pediu.
- Que vergonha! Um homem desse tamanho com medo de um examinho à toa!
- Homem?! Eu não sou homem!
- Não?! Aqui está a ficha. Darcy de Moura Vieira. Sexo masculino. Não é esse o seu nome?
- Claro que não! Sou Darcy de Souza Oliveira.
- Então, houve um engano, mas também com essa cara, esse cabelo, essa voz, essa roupa e esse nome dúbio, qualquer um pensaria que você é um homem.
Volte para a sala de espera que eu vou chamar o Darcy de Moura Vieira que “deve” ser um homem de verdade.
Aquilo era demais! Darcy começou a chorar, e, foi soluçando que voltou para a sala de espera.
A atendente refez sua cara impessoal e bradou:
- DARCY DE MOURA VIEIRA!
Antes, porém, que o senhor obeso pudesse levantar-se da cadeira, alguém correu até a porta e apontando o dedo ameaçador à aturdida mulher, gritou:
- EU QUERO SABER O QUE VOCE FEZ COM A MINHA FILHA PARA QUE ELA VOLTASSE DAÍ, CHORANDO, SEM FAZER O SEU EXAME!
- Houve um pequeno engano... pensei que ela fosse um homem. . . ou melhor. . . confundi os nomes. . .também. . . essas meninas vestem-se como homens, parecem um rapaz.
A senhora, como mãe, devia estimulá-la a ser mais feminina.
- Mas eu não sou a Mãe, sou o PAI!
Maith