À SOMBRA DO CHAPARRO

Dois compadres – Justino e Barnabé –

Numa tarde quente de "verão",

Sentaram-se num rodapé,

Cavaqueando por diversão.

- Pois é como lhe digo, compadre,

Aqui à sombra deste chaparro

Faz-nos cá falta uma comadre

Para um bate-papo bizarro…

- Ora, o que nos falta e se deseja

Para ajudar a passar o dia…

É, matar a sede co´ uma cerveja

E dar mais sabor à bizarria.

- Compadre, como vai essa moenga?

- Mais ao menos, e vossemecê?

- Vai-se andando, na lengalenga

À conta do que pra aí se vê.

- Do que pra aí se vê, nem me diga,

Sabe, compadre, o que vai por Lisboa?

Tanto de rir até me dói a barriga:

Uns se lamentam… e outros na boa!

- Há gente graúda e caloteira,

Que deve dinheiro até mais não…

E os bancos caíram na ratoeira

De lhes pôr a fortuna na mão!

- Ó compadre, vai-se-me até o tino…

E por onde anda essa justiça?

- Qual justiça, compadre Justino,

Parece que não sabe de nada, chiça!

- Ah, pois, foi a tal Dona Branca,

O célebre Salgado… o Azevedo,

O Carvalho, o Lima, vida santa…

- E aqueles qu´ estão em segredo?

- Olhe … Ainda não sabe o melhor!

- Ó compadre, pior do que eu já disse?

- Anda pra aí um tal Comendador

Que tudo o que faz é vigarice!

- Comendador… não é gente fina?

- É! Gente fina e espertalhona…

Gente, a quem nada se ensina,

E, mais do que tudo, aldrabona.

- Compadre, até no Parlamento

Onde eles têm que comparecer

Pra justificar o comportamento,

Riem-se e gozam até mais ver!

- Veja lá, compadre, quem diria?

- Olhe, devem milhões e milhões

E, depois de tudo, por ironia,

Fazem dos contribuintes parvalhões!

- Compadre, isto é que vai uma miséria!…

Esse tal de Comendador –

Fazendo-se passar por pessoa séria –

Afirmou que nem era devedor!

- Mais, disse, que s´ estava borrifando

Para as comendas que lhe deram

E, saindo de lá gargalhando,

Humilhou os que o interpelaram…

- É assim: uns são os “donos disto tudo”,

Outros, nem sequer levantam a voz

E o povo, p´ lo país, fica mudo

E, claro, os burros somos nós!

- Ai, compadre, à sombra deste chaparro,

Que para nós é testemunha,

Digo-lhe qu´ esses tais são pés de barro:

Se eu mandasse, na cadeia os punha!

Os dois compadres alentejanos,

Depois das suas congeminações,

Demonstraram que são humanos

Deixando para nós as conclusões…

Frassino Machado

In ODIRONIAS

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 18/05/2019
Reeditado em 19/05/2019
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