O QUE É DEMAIS É ERRO
“A chuva velhaca”
- Oh, venha ela e mais venha
A ver se a gente descansa,
O meu trabalho só aumenta
E o ordenado nunca avança!
O patrão cuida da sua jeira
Para que seu proveito tenha,
E diz quem está à chuvaceira:
- Oh, venha ela e mais venha.
O dono, de falinha mansa:
- Oh, venha ela e mais venha
A ver se a gente descansa?
- Se não fores lavrar, vais à lenha!
Queixou-se pois o jornaleiro
Ao seu patrão que representa:
- Ando a penar o dia inteiro
E o meu trabalho só aumenta.
E, logo mais acrescentou:
- A minha jorna cansa, cansa,
Há tanto tempo que cá estou
E o ordenado nunca avança!
Encolheu os ombros o patrão
Perante tal descaramento:
- Se não te agrada o quinhão
Diz já adeus ao teu sustento!
Esta vida é bem tramada,
Pois tudo que é demais é erro,
Há passos e passos na estrada
E andar nela, é um desterro.
Vai assim a humana moenga
Perante esta chuva velhaca,
Não há mesmo quem o aprenda
Pois a besta humana está fraca…
Cá pra nós, caia ela e mais caia,
Uma chuvinha nunca é de mais,
Que a ganância, porém, descaia
E se acabe o jugo dos Maiorais.
A chuvinha é o sangue da terra
Mas nunca pode ensanguentar
Pois quem trabalha se desterra
Num triste calvário exemplar!
Frassino Machado
In ODIRONIAS