Mosca na Dormida
Mosca na Dormida
20/09/2007
- Ah se eu te pego! Eu ia... Eu ia te esmagar todinha.
Já se passava de meia noite... Uma daquelas chuvosas, frias, gostosas de a gente dormir. Mas, Manoel, parecia estar enfeitiçado. Estava enfurecido, tudo por conta de uma maldita mosca que ficava zunindo no seu ouvido bem quando apagava a luz do seu quarto. Para seu desespero estava passando uma semana na casa do cunhado e não queria incomodar ninguém fazendo barulho.
Pisando macio, levantava, abria a janela, acenava com a mão, pegava sua toalha na tentativa de acerta-lhe uma bofetada e nada de seus truques de principiante dá certo.
- Mosca infeliz! Fique esperta comigo sua danada – dizia consigo.
Manoel rangia os dentes com raiva da mosca, dava vontade de quebrar tudo para pega-la. Passou um bom tempo observando sua trajetória de vôo, acompanhava cada curva e pouso. Ele estava desinquieto, pensou na disponibilidade de todos os objetos dentro quarto, mas não conseguiu bolar nenhum plano mortal. Ficou só a observá-la. Quando a mosca resolveu descansar, pousou na porta do guarda-roupa bem próximo da cama e foi só uma.
- Praaaaláláláa... Tindonlôlôn...
Manoel havia pegado sua camisa e batido na porta do guarda-roupa com tanta vontade que fez um barulhão, caíram muitos brinquedos que lá estava, os quais pertenciam ao seu sobrinho, no chão. Para sua sorte ninguém acordou. O forro da casa amenizou o barulho. Manoel respirou profundamente, sentou-se à beirada da cama e não se conteve com a derrota, pois no mesmo instante lá estava ela novamente, parecia provocá-lo, voava baixinho por cima de sua cabeça, passava próximo ao seu ouvido fazendo: zum um um um... Manoel de novo levantou da cama e disse:
- Se você quer guerra é o que vai ter... Já me cansei desta brincadeirinha idiota. Chame reforços. Ofereci-te muitas chances para ganhar a vida, não quiseras...
Foi até a cozinha procurar algo, desta vez estava confiante de que venceria a batalha. Pegou sua arma, chamou-a de “estraçalha mosca” era um tipo de borracha planificada. Sua estratégia era que no momento em que ela pausasse na parede ele a atacava com toda sua esperteza. Dito e feito. Quando a mosca parou de voar e desceu, veio à batida. Fez um barulho tão fino que ecoou nos quatro cantos do quarto. E a maldita mosca saiu intacta do ataque. Por fim, o cunhado tinha percebido toda aquela movimentação dentro do quarto e foi tomar conhecimento da situação. Logo fora advertido do clima. A conversa dera tão certa que o cunhado entrou na briga também. Como diz o velho ditado, “duas cabeças pensam melhor que uma”, traçaram um plano quase infalível.
Como o guarda-roupa não tinha nada de roupa, eles deixariam uma porta aberta, faria com que a rival entrasse dentro e em seguida Manoel entraria para resolver seu pepino. O cunhado ficaria de fora esperando por eventuais improvisos no plano, ou, tentativa de fuga por parte da mosca. Depois de muito trabalho a Mosca entrou no guarda-roupa e juntamente com ela Manoel. Só se ouviam as batidas, uma daqui, outra dali, as portas abrindo e fechando e nada de bandeira branca.
- A Mosquinha “penou”, disse Manoel.
Ela teria conseguido fugir, mas tontinha de tantas batidas. Saiu tão zonza que não viu mais a janela aberta. Agora ela estava amedrontada. Chegara seu fim.
- Realmente, sair dali seria quase um milagre e muita sorte - pensou a mosca.
Lá estava ela caída sobre o piso, sem forças para reagir. Teria feito tantas coisas erradas em sua vida, agora iria pagar por tudo. Então veio o arrependimento na Mosca por tudo que fez de ruim, lembrou de cada instante, de suas aventuras, e também de seus amores.
Quando Manoel e seu cunhado já estavam quase comemorando a vitória, a energia puff... Acabou e não conseguiam mais vê-la. Ficaram no escuro durante uns dez minutos. Ao reacender a luz, cadê a Mosca? Ela teria fugido pra nunca mais. O cansaço convidou-os a dormi. Já se passavam das duas e meia da madrugada. Sem nenhuma mosca a mais.