MALAE LINGUAE (Maldita língua)

_Vô!!!

_ Diga minha jovem...

_ Fui suspensa da escola por três dias e só posso retornar com a presença dos meus pais. Os dois. E o que eu faço agora?

_ Simples assim. Basta contar-lhes qual o problema e pronto. Ligam para a escola. Caso resolvido.

_ Por que tudo para você tudo é “fácil assim”? Que porra. Estou com o cu na mão e o senhor fica balançando nesta cadeira como se o mundo não existisse. É isso que me deixa puta.

_ Katrine meu bem, quantos anos você tem?

_ 12... Quer dizer depois de amanhã, farei 13. E já ganhei uma bosta de uma T.P.M que só Jesus na causa.

_ O que está te complicando meu bem. É a suspensão, teus pais ou esta merda desta tensão pré-menstrual?

_ É a equação inteira vô. Estou sem rumo e fudida.

_ Então façamos o seguinte: iremos resolver a equação assim. Menstruação resolve com tua vó, eu não sofro disto, não sou habilitado para tal. Mas a expulsão. Vamos analisar. Afinal, qual a gravidade do problema para chegar numa desta de horror?

_ Eu mandei à professora de história a puta que pariu... Simples assim.

_ Por cuà?

¬_ Eu estava com uma cólica do caralho e a discussão chegou aos meus ouvidos da seguinte forma: afinal, dona Maria era de fato louca ou não? Eu não estava nem aí para a prof. Quanto mais para esta louca.

_ Simples assim!

_ Esse seu simples assim me irrita vô. Parece que tu estás me gozando! Ela insistiu que eu tinha que dar minha opinião e eu relutei em atender ao pedido. Ela me taxou de desatenda e perguntou se eu estava com fome... Porque minha cara estava um horror. Respirei fundo porque me veio uma dor no baixo ventre; não sabia se eu corria ou sorria. E cu seco insistiu tanto que a única coisa que saiu mesmo foi... “Vá a puta que te pariu.”

_ Venha cá... Sente-se aqui próximo a mim. Vou lhe dizer como vai ser resolvido tal problema. Realmente não é tão simples assim. Vou eu conversar com esta professora graduada em história.

_ Mas vô.,. Só serve se for painho e mainha.

_ Nem mais e nem menos. Isto é coisa para o patriarca resolver.

_ Você vai é acabar de me fuder de vez. Tô vendo a merda que isso vai dar. Da suspensão eu irei para a transferência de escola. Aí sim, é que o pau vai comer no meu rim esquerdo.

_ Deixa de drama. Amanhã eu vou lá. Aproveita a desculpa das cólicas e deixa o resto por minha conta. A sim, como eu não estou quase enxergando, preciso que você me leve até a escola e me mostre a professora. Assim eu não corro o risco de falar com o sujeito errado.

_ Vai dar caca. Estou vendo. Ô fase difícil meu Deus. Para que eu fui crescer?

No dia seguinte...

¬_ Boa tarde dona Catarina. Vim resolver o problema de minha neta. Quero conversar com a senhora, a diretora e a professora.

_ Mas o senhor não pode... Este problema tão grave só pode ser resolvido com os pais e o conselho da escola. A coisa foi grave seu Eusébio.

_ Como? Não escutei. No auge dos meus 88 anos a senhora vêm me dizer que eu não tenho condições de resolver um problema. Reúne então o caralho do conselho e vamos por um ponto final nesta confusão.

Na altura do campeonato não somente o conselho escolar estava reunido, mas também os professores, inclusive a ofendida, dona Florisbela.

_ Eu peço que resolvamos logo este problema, porque senão eu vou começar a peidar aqui e é perigoso a fralda não suportar.

_ Vô???

_ Se aquiete Katrine. Eu já estou com meu saco cheio. E olha que nestes últimos tempos ele só vive murcho.

Neste meio tempo a psicóloga da escola, cheia de Freud, faz uma análise familiar na frente de todos e de tudo.

_ É de se compreender porque a neta é boca porca, porque o avô não fica para trás.

_ Como é que é? Sou velho, moco, mas não estou morto. Foi à senhora que pediu.

_ O ano passado, 815 milhões de pessoas, 11% da população global sofreu terrivelmente de fome. Enquanto nós, eu, a senhora doutora, desperdiçamos 1,3 bilhão de toneladas de alimento; o total de 30% do alimento produzido. Pior. Estamos numa paranoia onde cachorro é tratado como gente e o ser humano está sendo dizimado ao nível de nada e a senhora suspende minha neta porque ela mandou à digníssima a puta que pariu. A mãe dela era virgem? O único palavrão que ninguém deveria pronunciar aqui era fome, e o dito vai além da pronúncia, é fato. Mas, falando nisto, os loucos somos nós e não esta tal de dona Maria que nem eu conheci. Data vênia doutora, quantos anos a senhora tem?

O silêncio pairou tão alto que ensurdeceu a escola.

_ Katrine meu bem; bradou a diretora. Retorne para a sua sala de aula e dê este caso por encerrado.

_ Não posso diretora. Devo conduzir este velho para casa. Não trouxe fralda extra e pelo aroma, ele acabou de liberar suas emoções fisiologicamente falando. Ah! A senhora poderia chamar um uber para nós!

_ Jefferson, bradou a diretora para o motorista da escola. Vá levar este idoso para casa, por favor; antes que ele defeque na escola inteira.

_ Vamos vovô...

_ Pra onde minha neta?

_ Para casa.

_ E o problema.

Respondeu a psicóloga toda sem jeito.

_ Este nunca existiu meu senhor. Foi coisa da morbidade intelectual da mestra em questão.

_ O que ela disse Katrine?

_ Que está na hora de trocar tua fralda.

_ Nisto ela tem razão e não discuto. Está tão ruim assim?

_ Vô... O problema agora está contigo e não comigo.

_ Que bom minha querida. É simples assim. Basta me arrumar uma fralda nova e um bom banho.

_ Vamos vô, que eu tenho que trocar meu absorvente.

_ Aff!!! Tudo isso por causa da morbidade intelectual. Pensei que o problema eram meus palavrões. Quer saber de uma coisa? Não quero ser adulta não. Ô povinho complicado.

Eugênio.

22/03/19

Eugênio Costa Mimoso
Enviado por Eugênio Costa Mimoso em 22/03/2019
Código do texto: T6604923
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