AMBIGUIDADE AMOROSA
Um homem procurou o distrito policial do seu bairro para se queixar de eventuais ameaças que estaria sofrendo por parte de sua amada e assim se expressou:
- Seu delegado, há muito tempo eu estou sendo ameaçado pela mulher que amava, a qual alega que eu tenho que sair de casa, mas nós temos um caso em comum a ser resolvido.
O delegado era um daqueles profissionais muito competentes e de temperamento calmo, por isso ouviu pacientemente o relato do queixoso e, sem se sentir convencido do motivo apresentado por ele, finalmente perguntou:
- O que o senhor tem feito para evitar que essa pretensão maléfica saia em definitivo da cabeça da pessoa que você amava?
- Nada, seu delegado - respondeu ele - na verdade, eu ainda não parei para pensar nisso, e mesmo que eu pensasse em fazer alguma coisa eu não vejo, no momento, nenhuma vantagem em tomar algum partido.
O delegado ficou bastante curioso com a resposta dada pelo queixoso e para tentar elucidar melhor aquela questão, resolveu fazer mais uma pergunta:
- Com base em quais elementos o senhor confirma as ameaças dessa mulher em relação a esse caso?
O homem coçou o cavanhaque, meio desconfiado, como se estivesse pensando em pôr a sua barba de molho e respondeu:
- Seu delegado, confirmar, de forma plena, eu não confirmo não, mas tenho notado que nos últimos tempos ela tem andado com um comportamento muito estranho.
- Mas isso não é motivo suficiente para o senhor passar a desconfiar dela – contemporizou o delegado.
Com os olhos rasos d’água, o homem resolveu abrir o jogo de uma vez e, quase sem conter a emoção, ele confessou:
- Seu delegado, na verdade, eu não estou desconfiando dela não. As nossas discussões mais frequentes têm sido por causa de uma indefinição amorosa que muito tem atormentado a mim e a ela.
Veja bem, seu delegado, esta situação não é assim tão fácil de ser resolvida. Nós não vínhamos nos entendendo bem há já algum tempo, porque há outra pessoa envolvida nas nossas vidas. Ultimamente, eu passei a gostar de determinada pessoa, mas a mulher que eu amava também está gostando dessa terceira pessoa, que por ser muito indecisa, ainda não decidiu com quem vai ficar. Eu estou desconfiado que a terceira pessoa não deverá ficar comigo e sim com a mulher que eu amava.
- O senhor me entendeu agora? - quis saber o queixoso.
Aquele delegado, tentando não perder as estribeiras, respirou fundo, e naquele momento, decerto, teria contado até mil e, fazendo o verdadeiro papel de um juiz de paz, deu o parecer final para aquele caso, aconselhando-o:
- Realmente, seu caso é muito complicado, senhor. Eu sugiro que ao chegar à sua casa, procure se entender com a mulher que o senhor amava, envolvendo, é claro, essa terceira pessoa; tente um acordo amigável a três, já que a dois, o senhor e ela, sozinhos, não irão conseguir.