OS SALVADORES DA PÁTRIA
OS SALVADORES DA PÁTRIA
(Humor)
Na fronteira do Brasil com um país que nem vale a pena mencionar, instalou-se uma guarnição do exército. A intenção? Conter a movimentação pesada de drogas. Organizou-se tudo com "sangue nos olhos", selecionou-se os trezentos linhas-de-frente e pronto, iria começar a guarda. Temia-se o combate. A tensão estava em todos os soldados, mesmo que eles fossem quase que soldados "Hambos". O frio na barriga era geral.
O acampamento não era dos melhores. Barracas espalhadas, algumas surradas e outras pequenas demais para dois soldados por noite. Durante o dia, grupos embrenhavam-se na mata, mas a quantidade de mosquitos, formigas e outras pestes faziam os grupos recuarem. Sequer avistavam o inimigo, quanto mais combatê-lo. Os Salvadores, como eram chamados os fortes soldados, estavam sendo vencidos por insetos. Em alguns momentos de fraqueza esbravejavam, cravavam as metralhadoras no chão e começavam a esfregas as costas nas árvores com o intuito de diminuir a coceira. Isso provocava um clima hilário. Coisa que o comandante detestava. "Soldado bom é soldado sério! ", o bigodudo gritava em meio a fumaça do seu cigarro. Nesses momentos as risadas cessavam e os soldados se punham em guarda.
Por dia e dias foram inspecionadas muitas localidades da fronteira sem nem um sinal de armas, bandidos ou drogas. Aconteceu de um soldado novato, e a procura de medalhas, encontrar um depósito, que acreditou ser, de maconha. O soldado gritou e se alegrou. Imediatamente se juntou ao comandante e mais um grupo de uns 12 de soldados para confirmar verificar e então suas expectativas. Até que enfim um combate! No fundo, eles bem gostavam de um combate.
Avistaram o suposto depósito, que estava mais para um celeiro abandonado. O comandante parecia já experimentar as honrarias da missão concluída. Com cigarro nos lábios e armado com sua metralhadora deu um ponta pé na portaria, enquanto os outros soldados davam cobertura. O comandante se dirigiu ao estoque, puxou um dos sacos, tirou da bainha uma faca e o cortou. Tacou a mão dentro e pegou um punhado da suposta "maconha". Ao levar ao nariz e passar língua:
- Droga, isso é estrume! - Começou a cuspir e olhou para o soldado que tinha efetuado a descoberta.
- Que droga de soldado, hein?! Você vai levar dois sacos desse e comer como disciplina!
- Eca! - Disse o soldado cuspindo no chão, enquanto os outros riam parecendo um grupo de estudantes, o que deixou o comandante extremamente irritado.
- Agora todos vão levar dois sacos! Não, não. Vão levar todos. - Esbravejou.
Ao final da ordem do comandante surgiu uma voz do lado de fora do celeiro.
- Vocês estão cercados! Eu e meus dois filhos estamos armados com espingardas. - Disse um fazendeiro montado num cavalo, enquanto seus filhos apontavam as armas para a tropa.
A tropa jogou as metralhadoras no chão e levantaram as mãos, com exceção do comandante, que iniciou uma negociação.
- Bando de moças! – Disse olhando para a tropa - E vocês sujeitos, não somos ladrões. Somos do exército e estávamos fazendo uma expedição atrás de drogas.
- Pensamos que queriam roubar nosso estrume. - Disse o filho do fazendeiro - Eu até ouvi alguém dizer "vamos levar tudo". E isso é roubo sim.
- Mas é evidente que não! Nesse caso a tropa vai pagar 100 flexões a cada 1 hora. Deixaremos o estrume, eles podem comer gafanhotos. - O comodamente fez uma cara desânimo.
O fazendeiro estranhou. Desmontou e abaixou as armas, enquanto os soldados recolhiam as metralhadoras. O mal-entendido já estava entendido.
- Gafanhotos não são lá muito nutritivo, meu companheiro... - disse o fazendeiro. O comandante abaixou a cabeça, aparentou estar mais desanimado ainda.
- É... Acontece que nossa provisão no acampamento acabou e estamos nos alimentando de gafanhotos há uma semana. - Ergueu a cabeça- Mas vamos vencer a batalha!
O fazendeiro se compadeceu, fez um gesto apontando em uma direção e, de intuição, seus filhos foram pegar alguns sacos.
- Podem levar estes sacos de queijo. Aqui na minha fazenda fabricamos e vendemos queijo, mas podem levar esta remessa.
Os soldados voltaram quase que cantando para a o acampamento. Só não o fizeram porque sabiam que o comandante odiava cantoria tola.
Durante alguns dias, mesmo com a chegada de queijo, que é um alimento que, temos que concordar, é melhor que gafanhotos, a tropa ficou desanimada. Talvez por chegar tão perto de cumprir a missão e não obter sucesso.
Dias e noites eram infrutíferos. Durante a noite dois soldados faziam a segurança do acampamento enquanto o restante da tropa dormia. Bonne Bonne, um soldado ligeiro, tinha bom conhecimento da região e na noite que estava de vigia saqueou dois queijos do estoque do comandante.
- Esses queijos iriam cair bem com uma água ardente. Raios! Já estou de saco cheio dessa empreitada. - Disse Bonne Bonne a Jhon Lock, outro soldado escalado para a vigia da noite.
- Tem razão, porém de onde vamos tirar uma boa pinga? - Indagou Jhon.
- Eu sei de onde! - Disse Bonne Bonne com um ar de satisfação.
- Como assim? Duvido! Por acaso você tem alguma adega?
- Que adega que nada! Pela região Norte, seguindo pela estrada de terra batida e andando uns 4 km há uma bodega. Eu já fui lá antes, em algumas fugidas. Chocolates, balas, cigarros..., mas o melhor de tudo: tem uma bebida das boas. - Respondeu Bonne Bonne
- Espetacular! Ai então você sugere que deixemos o acampamento desprotegido, sujeito a ataques e tudo mais para sentamos na mesa de um bar fuleiro para comer queijo e beber umas?
...
O dono do bar abriu a terceira garrafa de pinga e colocou na mesa em que os dois soldados se deliciavam comendo queijo com azeite. Bonne e Jhon, pela terceira garrafa, já estavam no nível de piadas sem graça e boas risadas.
Pelas 4:00h manhã se lembraram de alguma responsabilidade, mas como já tinham se recheado de queijo e tomado cinco garrafas de pinga, até pensavam que a missão fosse derrotar terroristas. Voltaram cantando pela estrada de terra e, até se aproximar do acampamento, tropeçaram em algumas barracas. Alguns soldados acordaram assustados e começaram a dar tiros a torto e a direito com metralhadoras, acordando o restante do pessoal, inclusive o comandante.
O comandante ao reconhecer o barulho dos tiros, tocou forte o berrante. Como acampamento estava funcionando no improviso, o berrante servia como sinal para alertar que estavam sob ataque. Seria melhor uma corneta. A maior parte dos soldados correu com medo para o meio da mata, enquanto alguns mais bravos davam tiros a torto e a direito. A sorte foi que ninguém foi baleado. Apenas soldado acertou a caixa que servia de reservatório de água, estourando- a. Uma enxurrada arrastou a barraca e o comandante, que foram parar dentro do lugar que servia como fossa. Isso o deixou muito irritado...
Os soldados que fugiram e caíram nas trincheiras se mantiveram lá por um bom tempo, escondidos e assustados. Um soldado até disse: "essa causa está perdida mesmo" e assim fez uma pedra de travesseiro. "Já que é para morrer, é melhor morrer dormindo. Além do mais o sono estava tom bom", pensou.
Um soldado gordinho, que também pensava que a causa estava perdida, se dirigiu até o estoque e começou a devorar muitos queijos. "Vou morrer satisfeito", repetia.
No centro do acampamento havia madeiras e combustível, que deveriam ser acesos em caso de ataque. Bonne Bonne acendeu, fez espeto com os peixes que tinha comprado no bar e começou a assar. Jhon estava ao seu lado e também pretendia comer peixe assado. Eles, de tão embriagados que estavam, nem se deram conta do desastre no acampamento.
O dia clareou e lá pelas 10:00h da manhã o comandante estava conversando com subcomandante numa mesinha improvisada, ainda muito sujo e cheirando mal.
- Não sei, sinceramente, senhor, como consegue comer esses peixes com esse cheiro forte ao nosso redor - disse o subcomandante.
- É de raiva daqueles dois imbecis que estragaram tudo. Que droga! - Deu um soco na mesa.
- Onde estão eles? Suponho que você os tenha castigado.
O comandante tirou um osso do peixe da boca, fez um gesto de nojo, levantou o dedo em tom professoral.
- Por acaso você já fez suas necessidades fisiológicas hoje?
- Mais que pergunta comandante...
- Não... Melhor: vou te dar uma ordem. Vai tirar uma água de joelho agora no lugar de costume.
Mesmo sem entender a ordem, o subcomandante se levantou e obedeceu. Afinal uma ordem é sempre uma ordem!
Abaixou o zíper e começou a mijar para dentro da fossa que servia de banheiro, assobiando bem distraído. "Bem que estava precisando, será que o comandante adivinhou isso? ", pensou o subcomandante.
- Ei companheiro! - Ouviu uma voz fanha vinda de dentro da fossa. O subcomandante arregalou os olhos.
- Não poderia mijar um pouco mais para o lado? - Solicitou Bonne Bonne coberto de excremento até o peitoral. Ele estava falando fanho porque apertava o nariz com os dedos.
O subcomandante virou para o outro lado o jato de mijo.
- Ei companheiro! - Disse Jhon.