O livro que me deu fama
Meu livro, “Cavalos Galopam”, até hoje é um sucesso… para os críticos, não para os leitores. Graças a ele, entrei na Academia Nacional de Literatos, a ANL, e me tornei um “highlander”. Se você não viu o filme, “Highlander, o Guerreiro Imortal”, eu também não vi. Mas foi assim que me chamaram quando eu vesti o fardão que mais parecia um pijama de velho caduco. Não sou caduco e muito menos maluco. Minha grande tristeza foi me tornar “highlander” com um livro que fiz completamente chapado. Neste dia, havia bebido cachaça, vodca, uísque, cerveja e tequila, não exatamente nesta ordem. Fumei também dois ou três baseados. E foi aí que tive uma inspiração divina para escrever “Cavalos Galopam”. O livro trata da reprodução de puros-sangues para a corrida e o escrevi do início ao fim como se psicografasse uma carta. Mas a carta, quero dizer, o livro, tinha mais de duzentas páginas! Quando terminei de escrevê-lo, achei-o uma bosta e o joguei no lixo sem remorso. Por obra do destino, sorte ou sei lá o quê, minha esposa o pegou na lixeira, leu-o e o mandou para uma editora sem me contar nada. Alguns dias depois, recebi um telefonema. Era um editor de uma grande editora de Sâo Paulo, a Companhia dos Livros. Márvio Lima, como ele se chamava, via qualidades no meu livro onde eu só via defeitos. Mas ele era especialista em dizer se o livro é bom ou ruim para ser publicado. E eu, claro, concordei com sua oferta. O livro foi um sucesso de crítica e um fracasso de público. Vendeu o suficiente para pagar a tiragem da editora, mas me fez ganhar o prêmio Jabuti, apesar de eu continuar achando o livro uma merda, e me fez um “highlander”, um “imortal” da ANL. Bem, agora não importa. Já estou com o pijamão, quero dizer, com o fardão de “highlander” ocupando, há alguns anos, a cadeira de número 69 do cemitério, quero dizer da Academia. Me perguntam a toda hora se vai haver um segundo livro. Se dependesse de mim, Afrânio Diota, nem o primeiro, que me deu fama, existiria…
FIM