O melhor leitor do mundo
Cada pessoa tem o seu método de leitura, que lhe permite apreender a contento o que lê. O meu consiste no seguinte: começo a ler um livro, e assim que a leitura me entedia, eu a interrompo, deixo o livro de lado, e passo a ler outro livro, cuja leitura se me entendiando eu o abandono sobre a mesa e inicio a leitura de um terceiro livro, que, enquanto está me agradando eu o leio, mas assim que este também não me dá ânimo para seguir-lhe na leitura, eu o deixo sobre os outros, e tiro outro livro da estante, à cuja leitura dedico-me. Não raro, sobre a minha mesa eu deixo dez, vinte livros, todos eles com um marcador de página na página em que encerrei a leitura. E assim que, por alguma razão inexplicada, se me desperta a vondade de seguir na leitura de um deles, eu o retiro da mesa, e retomo a leitura do ponto em que a encerrei. Tenho o hábito de ler ora algumas páginas de um livro, ora de outro, e ora de um outro, sem encerrar a leitura de nenhum deles. Este meu método de leitura é o mais proveitoso já usado por uma criatura da espécie humana, pois permite que a pessoa que dele se utiliza leia o que deseja ler e quando tem interesse em ler, assim aproveitando à perfeição a leitura. Se confundo o que leio? Se misturo os personagens de um livro com os de outros? Não. E não. E provo o que digo, com um exemplo: certa vez, li, em simultâneo, ora trechos de um, ora de outro, cinco livros: Dom Quixote, de Cervantes; O cão dos Baskervilles (estrelado por Sherlock Holmes), de Conan Doyle; Gulliver, de Swift; Moby Dick, de Melville; e, Robinson Crusoé, de Daniel Defoe. E deles escrevo algumas palavras: Sancho Pança é o escudeiro de Sherlock Holmes. E ambos vivem em Lilipute. Moby Dick é o pangaré do Dom Quixote, que é um detetive e mora numa residência em Baker Street. O índio que Robinson Crusoé conhece em uma ilha chama-se Rocinante. E há, também, um tal de Mogli, que, de família nobre da Inglaterra, vai África, onde vive entre os macacos e casa-se com Julieta, e anos depois participa da guerra de Tróia, vindo a matar Golias ao cravar-lhe uma pedra no meio da testa.