O FERREIRO QUE SABIA A HORA CERTA...

A meninada da pequena cidade mineira estava em festa: As tão esperadas férias haviam começado. Naquele tempo não havia celulares, tablets, videogames... As brincadeiras eram nas ruas. Brincadeiras salutares, como: Chicotinho queimado, esconde-esconde (chamada em minha região por tabiela), boizinho passa aqui? Bete altas e muitas outras.

Evaristo, ou Varistinho como era conhecido “pegava fogo” com a molecada. Sua mãe, muito rígida com horários, havia imposto uma condição: Onze horas em ponto, para o almoço, se chegasse atrasado, além de ficar sem ele, castigo... Entretido com as brincadeiras, resolveu olhar as horas, procurou pela rua uma pessoa que pudesse lhe informar. A rua estava deserta, viu perto dali, um ferreiro sentando em um banco, na porta da oficina, se preparando para ferrar um animal, no caso, uma égua.

-Por favor, moço, sabe que horas são?

O velho oficial, pachorrento, suspendeu o rabo da égua olhou, e disse:

-São dez para as onze.

O moleque não acreditou, achou que o velho estava mangando com ele. Aí ele quis outra opinião: Estava passando um cidadão apressado, e o moleque lhe perguntou as horas.

-Dez para as onze!

O moleque ficou encucado, querendo saber como o ferreiro sabia a hora certa apenas olhando debaixo do rabo da égua. Resolveu ir para casa para não chegar atrasado para o almoço. Despediu-se dos colegas, prometendo voltar á tarde para continuar as brincadeiras.

Chegou a casa um pouco preocupado, pensando no caso do ferreiro. Seu pai notou alguma coisa diferente nele e perguntou o que estava acontecendo. Ele contou ao pai o caso do ferreiro que sabia a hora certa suspendendo o rabo da égua. Naturalmente o pai não acreditou, e como não gostava de ver o filho mentir, repreendeu-o. O menino insistia que era verdade e o pai resolveu tirar a limpo o negócio.

Foram os dois à procura do ferreiro. Chegando lá, o oficial já havia terminado de ferrar uma das patas traseiras do animal, e raspava o casco da outra pata para terminar o serviço. O pai de Varistinho foi dizendo:

-João, esclareça uma coisa: Meu filho afirma que você lhe contou a hora certa, suspendendo o rabo dessa égua... Como é que é isso?

O ferreiro sem interromper o serviço disse:

-Você tem relógio aí?

-Tenho!

-Trabalha certo?

-Certo igual a boca de bode, é um Roskopf Patent.

O ferreiro suspendeu o rabo da égua, olhou e disse:

-São onze e dez. Confere?

O pai de Varistinho olhou seu relógio e arregalou os olhos. E disse:

-Exato, que tipo de mágica é essa, é algum truque?

O ferreiro disse:

-Dê a volta aqui, fique aqui perto de mim, veja bem, o rabo da égua está tampando minha visão, eu o suspendendo, como enxergo muito bem graças a Deus, consigo ver o relógio da igreja, vendo as horas, não tem mistério nenhum...

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HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 31/12/2018
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