AMOR DE INFÂNCIA

Não sei como o amor funciona hoje, mas quando era menino lá pelos meus seis, no máximo sete anos, uma menina de longos cabelos negros e recorridos cometeu a audácia de sentar na cadeira que ficava de frente à minha e eu não tinha alternativa senão passar horas olhando aqueles cabelos e por culpa dessa menina, nada aprendia da aula.

Naquele tempo, criança dessa idade podia voltar pra casa sem precisar que ninguém viesse buscar, e eu voltava. A menina morava perto e sempre vinha logo a frente com a irmã três anos mais velha, enquanto eu vinha atrás maquinando como conquistar o coração dela. Meu irmão, que era mais novo que eu, mais sabedor das coisas do amor, entretanto, disse-me que existia uma forma de obter o amor daquela menina e assim procedi. Colhi flores pelo caminho; em casa, amassei e fiz uma porção do amor. No dia seguinte lá ia minha primeira paixão na frente e eu logo atrás segurando a porção. Tímido demais, encontrei coragem pra jogar a água suja de um dia pro outro no cabelo dela, que me dirigiu uma cara feia ao invés do sorriso que eu esperava. A porção não funcionou. Naquele dia deixei de seguir os conselhos do meu irmão.